Publicado em 23/09/2024

Juventude: Tempos Difíceis (Youth: Hard Times)
Juventude: Tempos Difíceis, de Wang Bing 

A conclusão da trilogia documental Juventude, do diretor chinês Wang Bing, chega à 26ª edição do Festival do Rio, que acontece entre 3 e 13 de outubro, na mostra Panorama Mundial. 

Juventude: Tempos Difíceis  Youth (Hard Times) — e Juventude: De Volta ao Lar — Youth (Homecoming) — trazem novas dimensões ao cotidiano de trabalhadores chineses da indústria têxtil. O trabalho do diretor, que filmou a rotina dos personagens entre 2014 e 2019, é um estudo de observação da realidade de jovens do país e apresenta um contexto no qual, segundo Bing, “ganhar dinheiro tornou-se o único horizonte”.

A narrativa de Juventude: Tempos Difíceis segue a temática de Juventude (Primavera), de 2023, e acompanha a rotina nas oficinas têxteis de Zhili, um distrito no norte do país, apresentando diferentes conflitos vivenciados pelos personagens. É o caso de Fu Yun, que comete erros e é ridicularizada por seus colegas; de Xu Wanxiang, que perde seus registros de trabalho e não consegue receber seu salário; de um grupo de trabalhadores que vê o chefe endividado agredir um fornecedor; e de uma oficina em que um patrão foge com todo o dinheiro.

Juventude: Tempos Difíceis (Youth: Hard Times), de Wang Bing
Juventude: Tempos Difíceis (Youth: Hard Times), de Wang Bing

 Ao longo de quase quatro horas de filme — marca registrada do diretor, que estreou em 2003 com A Oeste dos Trilhos (Tie Xi Qu: West of the Tracks), um documentário que se aproxima de nove horas de duração —, o público vivencia as angústias das jornadas de trabalho exaustivas mental e fisicamente dos personagens. O longa traz ainda a expectativa dos trabalhadores para a volta para casa ao final da temporada de trabalho, para celebrar o feriado do Ano Novo.

O filme foi exibido no Festival de Toronto deste ano, sendo descrito pela organização do evento como uma obra que testifica “olhar impassível” de Wang Bing e “nos envolve em uma experiência tátil da vida nas oficinas repletas de barulho, poluição e abuso, entregando um retrato épico e implacável — mas desprovido de fatalismo — do espírito indomável da juventude”. No Festival de Locarno, na Suíça, o filme recebeu uma menção especial.

Juventude: De Volta ao Lar, de Wang Bing
Juventude: De Volta ao Lar, de Wang Bing

É nessa atmosfera do retorno que se debruça Juventude: De Volta ao Lar, concluindo a trilogia e construindo a ideia de uma vida além do trabalho. As oficinas desertas e a viagem de volta para casa apresentam os trabalhadores que aqui deixam para trás seus uniformes e vestem os trajes comuns de pessoas com vontades, desejos, famílias e interesses. É o caso de Shi Wei e Fang Lingping, que aproveitam as férias entre as temporadas de trabalho para se casar com seus parceiros. Ao mesmo tempo em que estabelece um respiro em meio a um contexto opressor, o longa termina com a volta dos trabalhadores à fábrica, trazendo para a tela a sensação de um determinismo que condena toda a juventude chinesa.

A conclusão da trilogia, que foi indicada à categoria principal do Festival de Veneza, “segue perfeitamente a trajetória estabelecida” de Juventude (Primavera) e Juventude: Tempos Difíceis, de acordo com a Variety. A obra “captura os trabalhadores enquanto eles tentam escapar das garras da labuta capitalista, que os moldou e distorceu tanto que pode muito bem fazer parte deles mesmos. Eles se tornaram o trabalho — e votar para os apertados dormitórios de Zhili se tornou a própria volta ao lar.”

A programação completa do Festival do Rio será divulgada nos próximos dias. Acompanhe o site e as redes sociais para ficar por dentro de todas as novidades.

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