Publicado em 18/12/2021


Na tarde de sexta-feira, 17/12, o debate inicial da Première Brasil foi em torno do curta VIVXS! e de BR trans, último longa-metragem da competição de documentários a ser exibido. Denise Lopes, professora de cinema, mediou a conversa entre as diretoras Roberta Estrela D'Alva, Claudia Schapira e Tatiana Lohmann, do curta, e Raphael Alvarez, que assina o longa junto com Tatiana Issa.

Roberta inicia contextualizando que VIVXS! foi feito na ocasião do Rio Poetry Slam, que acontece dentro da FLUP, um evento anual de cultura e principalmente literatura periférica. O objetivo era não perder a oportunidade de fazer algo com o renomado Saul Williams e poetas negros do mundo todo que estavam reunidos na histórica região do Cais do Valongo, e o filme, segundo ela, é o registro de um momento, feito na urgência. Na sua opinião, algo importante do curta é como os escravizados foram trazidos até ali numa determinada condição e a virada de mesa que representa a presença das pessoas negras nas ágoras do slam, com agência para contar a própria história.

Detalhando o processo de filmagem, Claudia revela que foi tudo feito numa única manhã, seguindo a proposta do Coletivo Impromptu - que tem ela e Tatiana entre os membros - de trabalhar manifestações imediatas. A ideia era que os participantes representassem as vozes enterradas na região com potência, evocando encantaria e fantasmagoria na mistura dos mundos e narrativas de mortos e vivos.

Tatiana conta que as três cineastas tiveram um encontro com Saul Williams na véspera para uma espécie de alinhamento, mas o que aconteceu durante a gravação foi um rito, uma macumba. Em suas palavras, "talvez a macumba primeira, que é homenageando os mortos.". A diretora reitera que o filme não é ficção, as coisas foram acontecendo e elas acompanhando, resultando num processo de cura em alguma medida para todos os envolvidos naquela afirmação da vida.

Diretor de BR trans, Raphael analisa que a trajetória de seu longa foi semelhante, no sentido de não ter sido ensaiado e ser muito guiado pelo acaso. Em 2015 ele viu uma nota no jornal sobre o espetáculo em que Silvero Pereira recontava histórias de travestis e transexuais e decidiu ir gravar a peça, mesmo sem conhecê-lo até então. O coração do filme, na avaliação do realizador, vem do ator, e o diálogo íntimo com as entrevistadas foi facilitado pela ausência de equipe. Alvarez revela que levou oito anos para terminar o longa e a demora pode ser atribuída ao medo, pela dificuldade de não ser seu lugar de fala. Emocionado, ele destaca que seu maior desejo era que as meninas se sentissem representadas e acha que conseguiu isso.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Frederico Arruda

O Festival do Rio tem o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria de Governo e Integridade Pública.



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