Publicado em 10/10/2016

Ao apresentar seu primeiro longa-metragem na tarde de hoje (segunda, 10) no Cine Odeon, o diretor Felipe Sholl se disse emocionado por ver seu filme estreando no Festival do Rio, que ele conhece de perto, tendo chegado a integrar a equipe do evento. Fala comigo aborda a relação improvável entre o adolescente Diogo (Tom Karabachian) e Ângela (Karine Teles), uma mulher bem mais velha, paciente da mãe do garoto, a psicanalista Clarice (Denise Fraga). Durante a apresentação, Sholl e as atrizes principais falaram um pouco sobre o grave momento político do país. O realizador revelou ainda um desejo: “Fazer cinema também é resistir. Espero que esse filme faça sua pequena parte para tornar o Brasil um pouco menos conservador”, declarou.

O debate que se seguiu à sessão foi mediado pelo jornalista Tino Monetti, que lembrou que o filme concorre não apenas ao Troféu Redentor deste ano, mas também ao Prêmio Félix, voltado para obras que tratem da temática LGBT. Indagado por Monetti com relação à origem do projeto, Sholl contou que escrevera o roteiro onze anos atrás, à época da conclusão de um curso na Escola Darcy Ribeiro, sem intenção inicial de dirigi-lo. Com o passar do tempo e ganhando experiência como realizador através de alguns curtas-metragens, ele percebeu que poderia assumir a função: “Eu acabei querendo virar diretor para dirigir esse roteiro”, confessou.

Roteiro, aliás, que foi intensamente elogiado tanto pela plateia quando pelos outros integrantes da mesa, entre eles o produtor Daniel Van Hoogstraten e as atrizes Karine Teles e Denise Fraga, que ressaltou as qualidades de Sholl como diretor de atores e a sensibilidade da sua narrativa. “As relações que ele estabelece nesse roteiro são muito sutis, e o cinema é a arte da sutileza”, ponderou Fraga. A intérprete de Ângela concordou, ao  sublinhar “a quebra de paradigmas e a delizadeza com que ele olha para as relações que a princípio parecem tortas, mas são legítimas”. Acompanhada pelos filhos gêmeos, que não assistiram à sessão, mas prestigiaram o debate, Teles lembrou ainda que havia entrado em contato com a história muitos anos antes, quando ainda era jovem demais para o papel, e aplaudiu sua colega de elenco. “Denise, uma honra gigantesca trabalhar com você!”, exclamou ela.

Os outros membros do elenco presentes falaram a seguir. Tom Karabachian, que dá vida ao protagonista, expressou seu orgulho por ter trabalhado com tantas pessoas que ele já admirava. Daniel Rangel e Manoela Dexheimer, ambos estreantes em longas, concordaram, elogiando também o trabalho do diretor e apontando o valor da trama. “É uma honra estar num filme que fala de amor numa época em que a gente vê tanto ódio e intolerância”, sintetizou Rangel.

O diretor de arte Cedric Aveline falou sobre a importância da criatividade para driblar os obstáculos colocados pelo baixo orçamento e ressaltou a parceria com Léo Bittencourt, que assina a fotografia. Luísa Marques, responsável pela montagem, definiu o processo de edição como agradável, destacando a proximidade com o diretor como essencial nesse contexto.

Concluindo a conversa, Sholl listou suas influências como cineasta, citando John Cassavetes, cujo cinema segundo ele privilegiava o trabalho dos atores quando da construção das sequências. “Isso faz uma diferença enorme!”, apressou-se por completar Denise Fraga.

Texto: Maria Caú

Fotos: Jonathan Menezes




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