
Ao
apresentar seu primeiro longa-metragem na tarde de hoje (segunda, 10) no Cine
Odeon, o diretor Felipe Sholl se disse emocionado por ver seu filme estreando
no Festival do Rio, que ele conhece de perto, tendo chegado a integrar a equipe
do evento.
Fala comigo aborda a
relação improvável entre o adolescente Diogo (Tom Karabachian) e Ângela (Karine
Teles), uma mulher bem mais velha, paciente da mãe do garoto, a psicanalista
Clarice (Denise Fraga). Durante a apresentação, Sholl e as atrizes principais
falaram um pouco sobre o grave momento político do país. O realizador revelou
ainda um desejo: “Fazer cinema também é resistir. Espero que esse filme faça
sua pequena parte para tornar o Brasil um pouco menos conservador”, declarou.
O
debate que se seguiu à sessão foi mediado pelo jornalista Tino Monetti, que
lembrou que o filme concorre não apenas ao Troféu Redentor deste ano, mas também
ao Prêmio Félix, voltado para obras que tratem da temática LGBT. Indagado por
Monetti com relação à origem do projeto, Sholl contou que escrevera o roteiro
onze anos atrás, à época da conclusão de um curso na Escola Darcy Ribeiro, sem
intenção inicial de dirigi-lo. Com o passar do tempo e ganhando experiência
como realizador através de alguns curtas-metragens, ele percebeu que poderia
assumir a função: “Eu acabei querendo virar diretor para dirigir esse roteiro”,
confessou.

Roteiro,
aliás, que foi intensamente elogiado tanto pela plateia quando pelos outros
integrantes da mesa, entre eles o produtor Daniel Van Hoogstraten e as atrizes
Karine Teles e Denise Fraga, que ressaltou as qualidades de Sholl como diretor
de atores e a sensibilidade da sua narrativa. “As relações que ele estabelece
nesse roteiro são muito sutis, e o cinema é a arte da sutileza”, ponderou
Fraga. A intérprete de Ângela concordou, ao
sublinhar “a quebra de paradigmas e a delizadeza com que ele olha para
as relações que a princípio parecem tortas, mas são legítimas”. Acompanhada
pelos filhos gêmeos, que não assistiram à sessão, mas prestigiaram o debate, Teles
lembrou ainda que havia entrado em contato com a história muitos anos antes,
quando ainda era jovem demais para o papel, e aplaudiu sua colega de elenco. “Denise,
uma honra gigantesca trabalhar com você!”, exclamou ela.

Os
outros membros do elenco presentes falaram a seguir. Tom Karabachian, que dá
vida ao protagonista, expressou seu orgulho por ter trabalhado com tantas
pessoas que ele já admirava. Daniel Rangel e Manoela Dexheimer, ambos
estreantes em longas, concordaram, elogiando também o trabalho do diretor e
apontando o valor da trama. “É uma honra estar num filme que fala de amor numa
época em que a gente vê tanto ódio e intolerância”, sintetizou Rangel.
O
diretor de arte Cedric Aveline falou sobre a importância da criatividade para
driblar os obstáculos colocados pelo baixo orçamento e ressaltou a parceria com
Léo Bittencourt, que assina a fotografia. Luísa Marques, responsável pela
montagem, definiu o processo de edição como agradável, destacando a proximidade
com o diretor como essencial nesse contexto.

Concluindo
a conversa, Sholl listou suas influências como cineasta, citando John Cassavetes,
cujo cinema segundo ele privilegiava o trabalho dos atores quando da construção
das sequências. “Isso faz uma diferença enorme!”, apressou-se por completar
Denise Fraga.
Texto: Maria
Caú
Fotos: Jonathan Menezes
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