Publicado em 04/10/2015

O Cine Encontro deste domingo, 4 de outubro, começou animado no Odeon, com um bate-papo após a exibição de Mate-me por favor. A ficção de Anita Rocha da Silveira conta a história de Bia, uma adolescente que vive na Barra da Tijuca e que vê seu cotidiano se transformar com o início de uma série de assassinatos no bairro.

Sergio Mota, professor de comunicação social na PUC e mediador da mesa, ressaltou a relação do filme com o cinema de gênero, analisando que, ao invés de se encerrar na construção do suspense, ele vai em outra direção, avançando em questões mais aprofundadas, como as pulsões e anseios da adolescência, a morte, o corpo e a cidade. A diretora explicou que criou o roteiro com uma boa dose de inspiração em suas experiências próprias e em sintonia com sua obra precedente, que já tinha proximidade com o universo adolescente e o terror. Disse ainda que a vontade de ambientar a história na Barra da Tijuca veio da paisagem de verticalidade, espraiamento e contraste do lugar, com seus muitos prédios e áreas vazias, e da ideia dos condomínios fechados como espaços onde crianças e jovens crescem em meio ao isolamento e ao tédio.

O entusiasmado público teceu elogios a vários aspectos do longa, destacando interesse pelos mecanismos de fotografia e de som. O diretor de fotografia João Atala expôs o desenvolvimento de seus conceitos de luzes, cores e efeitos, muito influenciado pela atmosfera de suspense e medo que vai tomando conta de Mate-me por favor. Bernardo Uzeda, responsável pelo som e pela trilha sonora, salientou que o filme foi um emprego dos sonhos, pois raramente há a oportunidade de compor trilhas originais e explorar as sonoridades do cinema de gênero. A conversa, que também contou com a participação do ator Bernardo Marinho, da montadora Marilia Moraes e da diretora de arte Diná Salem Levy, ainda circulou em torno das referências da equipe, que citou David Lynch, Gus Van Sant, Maurice Pialat, Lucrécia Martel e Claire Denis, além de nomes da pintura e da literatura.

Vânia Catani, produtora, relatou os obstáculos e soluções encontrados durante a captação de recursos, e salientou a necessidade da formação de produtores nas faculdades de cinema do Brasil, para que as próximas gerações possam produzir seus próprios projetos.

Questionadas sobre a formação do elenco feminino, que ganhou prêmio especial do júri no Festival de Veneza e que Mota definiu como "combustão e nitroglicerina", todas as atrizes concordaram que a preparação foi tão intensa que as quatro se tornaram grandes amigas, e levaram a forte ligação do grupo para a vida real. Valentina Herszage, intérprete de Bia, revelou que foi muito desafiador: "A gente tinha que se abrir e confiar uma na outra. Acabamos formando esse quarteto e o levando para fora". Dora Freind, Mari Oliveira e Julia Roliz adicionaram a importância de terem sido ouvidas e levadas a sério durante todo o processo. "A Anita nos deu liberdade e a preparadora Ana Kutner nos levou a outro patamar de conexão", disse Oliveira.


Texto: Juliana Shimada

Fotos: Natália Alvim




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