Publicado em 05/10/2014


Nesta noite de sábado (04) um público interessado lotou a sala do Cine Encontro no Oi Futuro Ipanema, para um debate com o diretor de Câmera escura: os fotógrafos negros e a emergência de uma raça, Thomas Allen Harris.

O documentário investiga o legado de fotógrafos afro-americanos e seu papel na formação da identidade e emergência social dos negros no território americano, da escravidão à atualidade. Harris explicou que queria mostrar como a comunidade negra nos Estados Unidos saiu por sua própria vontade dos espaços a que estava confinada, conquistando reconhecimento por seu trabalho. Destacou ainda como a situação continua grave atualmente, com um terço dos homens afro-americanos na cadeia ou sendo mortos por seus iguais e por policiais. A plateia lembrou então como esse quadro se assemelha ao do Brasil, e sublinhou a importância da desmilitarização da polícia nos dois países.

O debate contou ainda com uma dinâmica proposta por Harris à plateia. Os espectadores levavam fotos que eram projetadas na tela do cinema, e então contavam seu contexto e levantavam questões a partir de sua história pessoal. A performance funcionou de maneira fluida, com uma variedade grande de pessoas, todas contribuindo e dividindo suas ideias e experiências. Todos, sem exceção, agradeceram profundamente ao diretor pelo filme e pela iniciativa de suscitar e compartilhar uma discussão tão importante para a sociedade. Harris disse que seu trabalho busca explicações para o fato de toda uma população ser vítima de uma violência tão forte até hoje: "E não há como alguém falar que esses são problemas distantes, porque eles acontecem em todos os lugares. O necessário é que vejamos o que nos conecta, não o que nos separa. E que entendamos que somos irmãos".

Questionado sobre a repercussão do longa-metragem nos Estados Unidos, o realizador declarou que a resposta foi imensa em Nova Iorque, e que o filme agora começará a ser exibido pelo país inteiro, o que é surpreendente para um documentário histórico com esta temática.

O público apontou a beleza do gesto de Harris ao dar prosseguimento ao filme através da dinâmica das fotos, e ele respondeu que o filme não se encerra quando sobem os créditos, e que o processo deve continuar. "Isso é sobre agir, sobre se manter em movimento, é ir para além do filme", disse o diretor. Ele então também agradeceu às pessoas da audiência, que contribuíram para o debate de maneira tão significativa e rica.

Vik Birkbeck, curadora da mostra Fronteiras, que mediava o Cine Encontro, ressaltou como era grata ao Festival do Rio por proporcionar a oportunidade de exibição de Câmera escura: os fotógrafos negros e a emergência de uma raça e da conversa sobre o filme, pois estas eram experiências transformadoras na vida de todos ali presentes.

Texto: Juliana Shimada



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