Um documentário de busca no Cine Encontro Esse viver ninguém me tira, de Caco Ciocler, lida com memórias e com a coragem de uma mulher que enfrentou o nazismo
Nesta sexta-feira (03) aconteceu na Sede do Festival uma comovente conversa sobre Esse viver ninguém me tira, de Caco Ciocler. O filme narra a busca do autor por sua personagem, dona Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, e pelo próprio documentário.
Questionado por Chico Otávio, jornalista que mediava a mesa-redonda, Ciocler explicou que a ideia para o filme veio de Alessandra Paiva, roteirista que já havia providenciado, junto com a produtora Cine Group, toda a pesquisa e a pré-produção necessárias. Disse que o convite para a direção lhe pareceu, a princípio, estranho, pois ele não se sentia conectado ao tema, mas que, ao ir atrás de informações e juntar as peças sobre a vida e a memória de Aracy, percebeu que precisava, sim, dirigir Esse viver ninguém me tira: "Sou uma pessoa sortuda, sempre fui. Eu não tive nenhuma dificuldade com essa produção. A Cine Group me tratou como um filho, eles me receberam, receberam minhas ideias e me deram toda a liberdade para explorar esse filme. O que eu ganhei foi um presente".
Caco Ciocler sublinhou a importância dessa experiência, que transformou o que era curiosidade em uma profunda gratidão pela pessoa de sua personagem. Aracy, que trabalhava no consulado brasileiro de Hamburgo, ajudava judeus no auge do nazismo, correndo risco de vida. Ciocler, que é judeu, revelou que sentiu uma imensa conexão com sua própria história. "Eu senti uma ligação muito forte com as minhas origens. Não sou religioso, mas ser judeu é mais que isso, há uma questão histórica, cultural". Destacou ainda que não procurou fazer um filme que apenas contasse e expusesse fatos sobre o tema documentado. O caso de dona Aracy, por exemplo, funciona abrindo questões mais amplas, que tocam a todos, como a memória, a relação familiar, a coragem. Ressaltou ainda que foi essencial o cuidado de tirar Aracy da sombra de seu marido, João Guimarães Rosa, considerado por muitos o maior escritor contemporâneo do Brasil. "Ela foi uma heroína, e deve ser reconhecida para além de sua relação com Rosa".
Patrícia Monteiro, produtora da Cine Group, contou que se emociona todas as vezes em que assiste ao filme. Disse ainda que, quanto à exibição, a empresa está trabalhando para que no início de 2015 a obra esteja nas salas de cinema. Além disso, rodará festivais no Brasil e no exterior, e já recebeu solicitações de canais televisivos com a intenção de exibi-la.
Concluindo o Cine Encontro, o diretor fez uma fala inspiradora sobre a arte: "É para trazer uma nova maneira de enxergar as coisas, é a instauração de algo novo. Arte é mostrar outras formas de viver a vida, de estar no mundo, é apresentar essas possibilidades pro público".
Texto: Juliana Shimada
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