Publicado em 09/10/2016

Por Renato Guimarães (Talent Press Rio)

Um trem cruza a cidade; “já é a segunda vez”, diz a senhora que, à janela, assiste ao futebol dos meninos descalços na rua de paralelepípedos. Distante, um barqueiro cruza o rio. Frenéticas, as máquinas da tecelagem não param de bater. É essa pequena cidade, no interior de Minas Gerais, a âncora de Redemoinho, longa-metragem de estreia de José Luiz Villamarim. A trama começa quando dois amigos, depois de anos, se reencontram e se afogam num diálogo repleto de memórias, mágoas e não ditos.

Através de belíssimos enquadramentos que, efetivamente, enquadram e aprisionam os personagens, Villamarim e o diretor de fotografia Walter Carvalho geram uma atmosfera de tensão e de mistério que se estende do início ao fim do filme. Com uma câmera que nos faz espiar essas vidas por meio de portas entreabertas e janelas gradeadas, Redemoinho funciona como um thriller sobre o remorso e sobre as certezas que se desmancham no ar.

O ritmo preciso e a direção de arte, que nos fazem sentir o peso do cotidiano retratado, desviam a nossa atenção da previsibilidade do roteiro, da falta de profundidade na construção dos personagens e da sensação de que já vimos essa história anteriormente. A fragilidade do conteúdo é, então, maquiada por uma bela forma.

Conforme Villamarim vai atingindo o clímax e se aproximando do desfecho, o filme se revela apenas como um grande exercício de ambientação. A certa altura, nem o bom elenco (Irandhir Santos, Julio Andrade, Dira Paes e Cássia Kis Magro) consegue mais segurar a trama e ultrapassar o caráter de estereótipos de seus personagens.

Quando, numa das últimas cenas, o personagem de Irandhir diz que “a vida é assim mesmo”, nos encontramos na fronteira entre o poético e o vazio. Redemoinho é um pouco assim: tem força e beleza, mas não cumpre as boas promessas de sua narrativa.




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