Três Verões e os pesadelos neoliberais Sandra Kogut participa da Première Brasil Debates
O domingo (15/12/19) fechou com um debate de sala cheia no Cinema Odeon. Três Verões foi tema da última mesa do dia, mediada por Flavia Guerra, que contou com a presença da diretora Sandra Kogut, do diretor de fotografia Ivo Lopes Araújo, do produtor Marcello Ludwig Maia e dos atores Rogério e Gisele Fróes. O longa desenvolve-se sobre uma trama bastante contemporânea acerca do Brasil, partindo da pergunta: o que acontece com aqueles que gravitam em torno dos ricos e poderosos quando a vida deles desmorona? No filme, este conflito desenrola-se depois do patrão de Madá ser preso durante as investigações da Operação Lava-jato.
Flavia iniciou a conversa falando sobre o diálogo do filme com o público e da vontade de Sandra de narrar sobre quem normalmente é coadjuvante da história. Para a diretora, era impossível não falar do que o Brasil vive no momento em que impera na sociedade um sonho neoliberal, em que a preocupação de ricos e pobres resume-se ao dinheiro. Segundo Gisele, Três Verões aborda pessoas diretamente afetadas pela corrupção da elite mas que continuam a ocupar um mesmo lugar por às vezes não terem noção desse quadro.
Para Flavia, a fotografia de Ivo contribuiu para o que considerou como "a ordem do não dito, do não mostrado" como o filme foca em três dezembros diferentes, cabe ao espectador construir o que acontece entre os verões. O mesmo acontece com o som. O filme conta com poucas inserções de trilha musical; Sandra não gosta de incluir músicas que comentam as cenas, uma vez que muito é contado pelo registro sonoro. O que mais o agrada a Rogério no filme é a delicadeza de Sandra no trabalho das emoções ao não explorar o sentimento fácil e valorizar os pequenos gestos, “porque de maus gestos o Brasil está cheio”, em suas palavras.
Sente que todo o trabalho compensa a reação da plateia, que gargalhou diversas vezes durante a exibição do longa. Flavia ressaltou a qualidade dos diálogos e Sandra comentou sobre a importância de o roteiro ser apropriado pelos atores. Ela não gosta do texto decorado, e sim de como ele vai soar em cada integrante do elenco.
Da plateia, muito participativa, surgiu a questão de qual a importância de filmes com conteúdo, subtexto e crítica, feitos de forma acessível ao grande público. A pergunta deixou Sandra muito contente, já que o seu sonho é justamente esse. Afirma sua preferência em fazer filmes que deixam espaço para que o público preencha o que aconteceu, sem sublinhar tudo. O público deve ser entendido como um parceiro. Para o produtor Marcelo, isso também faz parte de não estar refém da linguagem estadunidense predominante no cinema.
Por: Marina Martins
Foto: Mariana Franco
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