Publicado em 16/10/2022

Centrado no filme Transe, o segundo debate de sábado (15) foi mediado pelo jornalista e crítico de cinema Luiz Carlos Merten, que recebeu no palco do Cine Odeon as diretoras Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, e os atores Luisa Arraes, Ravel Andrade e Matheus Macena.

Merten iniciou o bate-papo dizendo que sentiu reminiscências do clássico A Chinesa (1967), de Godard, e Carolina explicou que o longa-metragem nasceu dia 29/09/2018, na manifestação do "Ele Não". “A gente queria desde o princípio fazer uma ficção, mas não sabia que história a gente ia contar”, ela detalhou, compartilhando que Luisa Arraes estava desde o início no elenco e Johnny Massaro entrou ao participar de uma festa surrealista que a equipe filmou na noite do ato.

Nas palavras de Anne, o processo foi muito diferente do habitual. Ficção inserida numa realidade que eles não entendiam, o filme funcionou como uma tentativa de sobrevivência e união num momento complicado da sociedade brasileira. Transe foi concebido enquanto era feito, a partir de reuniões diárias e com contribuições de toda a equipe. A cineasta também falou na emoção, particularidade, sorte e angústia de estrear o longa quatro anos depois do começo de tudo, novamente perto da eleição presidencial.

Carolina mencionou que a premissa era “através da inocência de jovens de vinte e poucos anos, tentar traduzir a nossa ingenuidade da esquerda, do campo progressista, porque a gente tava muito despreparado”. Anne complementou dizendo que é uma autorreflexão da dupla através do amadurecimento político da protagonista.

A determinação do grupo em fazer o filme, gravando de madrugada, no tempo que tinha, virando noites sem dormir, foi destacada por Luisa Arraes, que lembrou o contraste enorme entre a experiência extasiante de fazer o longa e a realidade deprimente em curso. Outra observação da atriz foi sobre a beleza e graça de cruzar com várias equipes nas ruas ao mesmo tempo, filmando e tentando entender o que estava acontecendo – Ravel, inclusive, gravou simultaneamente Outubro (2019), de Maria Ribeiro e Loiro Cunha.

Matheus Macena declarou ver algo belo, teatral e performático em contar uma história conforme ela está acontecendo, o que vale para a paixão e para a nação. “Aquele reduto progressista, que foi esse apartamento, não era só um lugar onde a gente gostava de encontrar nossos amigos, pra gravar algo que pudesse ser relevante pro nosso próprio país naquele período. Era algo que a gente precisava também, que a gente tava desesperadamente na necessidade, porque não foi um período apenas de mudança política, de caos. Foi um período de depressão e tristeza”, concluiu o ator.

De acordo com eles, não existiam diálogos escritos e tudo foi feito em improvisação, a partir de conversas em que ficava estabelecido o que aconteceria em cada cena. A única exceção foi a participação de Matheus como eleitor de Bolsonaro, que exigiu roteiro – com colaboração de Jorge Furtado –, ensaio e dois dias de gravações.

Um filme de época, nas palavras das próprias realizadoras, Transe é enriquecido por aparições especialíssimas de artistas que surgiam no set e contribuíam com seus próprios textos. O processo de montagem, descrito como exaustivo, gerou muitos filmes até o encontro do que fizesse jus ao interesse em falar de política, tolerância e amor.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz



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