Publicado em 13/12/2019

A mostra Première Brasil: Novos Rumos exibiu nesta quinta-feira (12/12), a ficção “Sem seu sangue”, seguida de um debate mediado pelo professor Mauro Trindade, que leciona Teoria e História da Arte na UERJ; acompanhado pela diretora Alice Furtado, o produtor Matheus Peçanha, o autor da trilha original, Orlando Scarpa Neto, e os atores Luiza Kosovski e Juan Paiva. 

Sem seu sangue aborda a relação entre Sílvia (Luiza Kosovski) e Arthur (Juan Paiva), dois jovens estudantes de Ensino Médio apaixonados. Arthur é hemofílico e precisa lidar com os cuidados exigidos pela condição médica. Após sofrer um acidente, o rapaz falece. O filme acompanha o luto de Sílvia e seu desejo de trazer o amado de volta à vida. 

Mauro Trindade iniciou a conversa questionando a origem da narrativa de “Sem seu sangue”, tão orientada por uma discussão do desejo feminino. Alice Furtado explicou que as primeiras ideias para o projeto surgiram em torno de 2012, a partir de questionamentos pessoais acerca de temáticas como desejo e amor. 

A diretora revelou seu interesse de longa data em trabalhar com casais de personagens, dessa vez investigando o que acontece com as mulheres nessas relações. Mauro indagou em seguida sobre o crescimento do gênero fantástico no Brasil. A diretora acredita que o cinema fantástico está em expansão não só no país, como no mundo: “É uma tentativa de entender e se dialogar com o mundo em que a gente está vivendo, que é muito estranho e que está muito tenso, através da fantasia”, afirma. 

A Matheus Peçanha, Mauro perguntou sobre como é ser produtor de cinema num momento turbulento para a produção cultural no Brasil. “Basicamente impossível”, coloca Matheus de maneira direta. Para o produtor, “Sem seu sangue” é fruto de uma série de políticas públicas de incentivo ao audiovisual – e a projetos de diretores estreantes, frisa – implementadas durante 15 anos no país. Em 2018, porém, o panorama produtivo tornou-se outro para pequenos produtores; ele reforçou a ausência de recursos e a falta de acesso aos mesmos por parte de realizadores iniciantes no cenário recente. 

Em torno da personagem Sílvia, Luiza pontuou a ajuda da diretora na construção de sua melancolia: “desde a primeira vez que a gente se encontrou, eu vi na Luiza a dualidade dessa personagem”, coloca Alice. 

Sobre a sonoridade geral do filme, a trilha do longa fora pensada entre Alice e Orlando a partir de diversas referências da diretora. Já a mistura da trilha com os sons ambientes derivou de um próprio método de trabalho de Orlando. 

Abrindo a conversa ao público, um espectador comentou a relação de “Sem seu sangue” com as artes visuais. Alice confirma a existência dessa relação, afirmando que o personagem Arthur fora inspirado no pintor Basquiat. O ator Juan Paiva comentou a construção de Arthur: “A gente sempre estava buscando o mistério no personagem”; procuravam também deixar o público com dúvidas sobre o garoto, numa espécie de construção aberta. Sobre a última cena do filme, em que nos deparamos com um zumbi, a diretora afirma: “eu não queria que fosse um zumbi desprovido de vontade ou de energia. (...) Eu queria que ele chegasse não submisso, mas provocando”.

Por: Mariana Ísis

Foto: Luiza Grün



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