Sem Coração: drama sobre amadurecimento retrata descobertas da adolescência Filme dirigido por Nara Normande e Tião concorre na Première Brasil
As descobertas da adolescência, o primeiro amor e a perda da inocência são alguns dos temas de Sem Coração, filme de Nara Normande e Tião que foi exibido no Cine Odeon - CCLSR em uma sessão que contou com debates com a presença dos cineastas e da equipe do filme na tarde deste sábado (7).
Normande levou para a tela uma história com tintas autobiográficas e alguns toques surrealistas. A trama se passa no verão de 1996 na praia de Guaxuma, um recanto paradisíaco de Maceió, Alagoas, onde existe uma vila de pescadores. Lá, um grupo de amigos curte o tempo que ainda têm juntos enquanto Tamara (Maya De Vicq) se prepara para se mudar para Brasília.
“A ideia era tentar enxergar os adolescentes sem os nossos filtros morais e deixar que as experiências falem por si”, comenta Tião, que revelou que sempre se sentiu instigado pelas histórias que Nara contava sobre sua adolescência e que inspiraram os eventos do filme. “A adolescência é uma fase de descobrimentos. A moral tem uma zona cinzenta e eles vão descobrindo.”
No enredo, Tamara se sente cada vez mais atraída por uma jovem solitária apelidada de “Sem Coração” por conta da cicatriz que carrega no peito. A personagem é interpretada por Eduarda Samara e inspirada em uma menina sobre quem Nara ouvia falar quando era criança.
Em Sem Coração, Nara e Tião adaptam para o formato de longa-metragem o curta de mesmo nome que a dupla dirigiu e foi lançado em 2014. Na obra original, o protagonista era Léo, um menino que vai passar as férias na vila de pescadores. Dessa vez, a personagem principal é uma menina que reside na Guaxuma e está se preparando para deixar o local. “A mudança do protagonista foi refrescante porque a gente ficou mais empolgado para escrever algo novo que tinha mais a ver com os filmes e com a vida da Nara”, comentou Tião.
Durante o desenvolvimento do curta, a atriz Maeve Jinkings trabalhou como preparadora de atores pela primeira vez na carreira, função que aceitou realizar por admirar o trabalho dos diretores e que considera ter ajudado a aprimorar seu trabalho como atriz. Agora, no longa-metragem, Maeve interpreta Fátima, mãe de Tamara.
Foi na produção do curta, há uma década, que os diretores descobriram o talento de Eduarda Samara, que retorna, dessa vez no papel-título. Já Maya De Vicq faz seu primeiro trabalho como atriz em Sem Coração, assim como o influenciador e criador de conteúdo Kaique Brito, fenômeno das redes sociais que foi muito aplaudido por fãs na plateia do Cine Odeon durante o debate.
Para Tião, um dos méritos do filme é abordar tanto a história daqueles adolescentes e daquele local de uma maneira complexa. “A gente queria mostrar a realidade do nosso país. Mostrar que é um lugar muito bonito, mas também muito violento. Mostrar uma história que tinha poesia, tinha amor, mas também tinha homofobia, tinha morte, tinha pais que acolhem, pais que não acolhem”, conta.
Um dos elementos visuais mais marcantes do longa-metragem é a presença de uma baleia encalhada que aparece na praia e em momentos de devaneio na imaginação das personagens. Para representar o animal marinho, os diretores não usaram efeitos especiais digitais, mas encomendaram a construção de uma imensa baleia cenográfica criada pela equipe de arte, processo que Nara define como caro, trabalhoso e difícil, mas que enriqueceu o filme.
A figura do mamífero marinho contribui para algumas cenas que mesclam realidade e fantasia no longa-metragem, aspecto que agrada a cineasta. “A gente não fica só com a realidade crua e consegue trabalhar as emoções de uma forma mais abstrata e sensorial”, conta Nara. “A gente queria esses elementos mais oníricos e mais fantásticos.”
Texto: João Vitor Figueira
Foto: Ian Melo
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