Ressaca e um Rio de Janeiro em preto e branco Diretores Vicent Rimbaux e Patrizia Landi participam dos debates da Première Brasil.
O ciclo de debates da Première Brasil começou nesta terça-feira (11/12) no Cinema Odeon, com o filme Ressaca, de Patrizia Landi e Vincent Rimbaux. O documentário trata da crise econômica do Estado do Rio de Janeiro a partir da perspectiva de bailarinos e funcionários do Theatro Municipal. O debate foi iniciado com a pergunta: existir é resistir? Patrizia não só concordou, como disse que o filme estava servindo como uma metalinguagem para o Festival do Rio, que quase não conseguiu acontecer.
A motivação de Vincent, francês que mora do Rio há vinte anos, para o documentário foi sua vontade de fazer um filme sobre a crise na cidade. Então, ouviu sobre a falta de pagamento dos salários no Theatro Municipal e, em particular, sobre Felipe, primeiro bailarino que estava trabalhando como Uber para se sustentar. Segundo Patrizia, a premissa do filme foi partir do ambiente público e do privado, já que um traz a esfera social e política e o outro, a captação da emoção em abundância.
O documentário não tem entrevistas. Para Patrizia, em uma situação tão pungente, não é necessário que falem para a câmera. Segundo Vincent, o objetivo era o de captar emoções e a angústia da espera de dias melhores, mais do que entrevistas. Estavam presentes na mesa também Ayran Nicodemo, violinista da orquestra do Theatro Municipal, e João Wagner Araújo Pereira, funcionário do Theatro e neto de João, um dos personagens-chave do filme. Eles adicionaram que a relação entre todos os personagens e a equipe foi muito cuidadosa e respeitosa.
Ainda sobre o formato, surgiu da plateia a pergunta sobre a escolha do uso do preto e branco. Os diretores comentaram que um retrato em preto e branco do Rio de Janeiro é o que cabe hoje em dia à cidade, que vive momentos complicados e já não pode ser mais retratada da forma colorida e alegre como costumamos ver, além de funcionar bem para as imagens do ballet.
Verônica fechou o debate perguntando como se constrói um legado de construção, resistência, permanência e sobrevivência em um momento de tantas tristezas. Patrizia disse que é preciso exibir o filme em todos os lugares que ele possa ser visto. “Resistir é continuar mostrando e fazendo, brigando pelas políticas públicas, usando a voz para lutar contra a censura, usando todos os espaços disponíveis”. Como até hoje não conseguiram autorização do Theatro Municipal para exibir o documentário aos funcionários, surgiu uma sugestão da plateia: exibir na Cinelândia. Afinal, como é transmitido pelo olhar do filme, a praça pública, assim como o Theatro Municipal, é espaço do povo.
Por: Marina Martins
Foto: Mariana Franco
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