Publicado em 06/10/2014

O domingo (05) começou animado no Armazém da Utopia, com um Cine Encontro sobre Meia Hora e as manchetes que viram manchete, documentário de Angelo Defanti que trata da história do jornal Meia Hora e levanta a temática da imprensa no Brasil.

O diretor e roteirista explicou que há uma questão central que o filme busca investigar e que é sua grande motivação: a pergunta "Quem é o leitor do Meia Hora?". Ele disse que os depoimentos e as peças com que iam se deparando ao longo da busca sempre apontavam para essa mesma questão, que parecia por muitos resolvida mas que, para ele, está longe disso. "Aquelas pessoas acham que o público delas é um cara pobre, que compra o jornal para ler no trem e não está interessado nos textos das notícias, nem entende quase nada se não estiver naquele formato. Não pode ser tão simples assim", completou Bernardo Jucá, responsável por roteiro e montagem.

Questionados por Rodrigo Fonseca, crítico de cinema que mediava a mesa, os dois concordaram que o humor do filme era inerente ao assunto, mas que aconteceu de descobirem outro humor, o da montagem das entrevistas, colocando falas e opiniões umas de frente para as outras. Falaram que isso se deu de maneira orgânica, pois a natureza dos depoimentos os conduziu a essa forma.  "Nós tentamos fazer com que a princípio o espectador se sentisse confortável, entrando na atmosfera, rindo das manchetes. Em seguida a gente trazia esse outro lado, entrava com os questionamentos, quase para o espectador se sentir culpado pelas risadas que ele deu. Eu vivi exatamente essa conscientização, e queria que o público a vivesse também, para que saísse da exibição refletindo", contou Defanti.

Felippe Schultz Mussel, produtor e técnico de som, ainda ressaltou o diferencial de Meia Hora e as manchetes que viram manchete: "O grande mérito foi fazer esse filme sobre uma empresa do lado interno da empresa. Ele foi feito junto com as pessoas do jornal, com a colaboração deles, e dali de dentro conseguiu subverter e não ser só uma historinha institucional". Fonseca observou então que esse tipo de produção, principalmente sobre os jornais, não é comum na cinematografia, e que o filme era altamente atrativo para o mercado, dos pontos de vista estético, formal e temático. "Eu tenho a sensação de que vocês vão ganhar dinheiro pro resto da vida com esse filme. Ele é acessível, é um produto que é sucesso", declarou. Letícia Friedrich, que está trabalhando com a distribuição, sublinhou que acredita haver interesse por parte do mesmo público do jornal, e que pretende atendê-lo. Além disso e do circuito de festivais e salas de exibição, ela revelou que já começou a receber uma enorme demanda vinda de faculdades e professores, que veem a necessidade de passar o longa e suas questões adiante, continuando a discussão que ele suscita.

A plateia, que participou ativamente do debate, apontou a importância da reflexão que é colocada para o espectador, dando-lhe um papel ativo durante o filme, de pensamento e não de passividade.



Texto: Juliana Shimada

Fotos: Giulia Accorsi





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