Publicado em 03/10/2014

Na quinta-feira, 2 de outubro, no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF) foi debatido o documentário Revolução ao contrário – Dívida e trabalho: o novo colonialismo, dirigido por Chiara Cavallazzi.

O bate-papo foi mediado pela curadora da mostra Fronteiras, Vik Birkbeck, e logo de início a plateia demonstrou curiosidade sobre o desdobramento dos movimentos documentados. Eric Smith, chefe de cozinha que participa do longa-metragem, disse que as ocupações foram só o começo. Uma multidão que chega numa praça e ali fica incomoda e incita quem passa. As ideias começam a se expandir. Dessa forma, Smith revelou que milhares de pessoas se interessaram pela questão e assumiram a luta.

Cavallazzi se lembrou de um capitão da polícia que, ao se identificar com a proposta e sair pelos Estados Unidos dando palestras, ajudou a criar uma rede de movimentos pelo mundo.

Muitos outros fatos marcantes ocorreram em decorrência das lutas desses grupos. Após o furação Sandy, por exemplo, pessoas voluntariamente ajudaram as vítimas sem nenhum apoio do governo.

Um membro da plateia disse ter visto muito do documentário Globalização às avessas, de Milton Santos, na obra de Cavallazzi. Ambos têm uma visão positiva sobre o futuro dos problemas sociais, políticos e econômicos. Smith e Cavallazzi não conheciam o longa de Milton Santos. Eles explicaram o quanto é difícil encontrar filmes com esse tema e essa posição porque o governo não vê vantagens em patrocinar esses projetos. Pelo contrário, o sistema teme que tais premissas se tornem fortes e comecem a se espalhar.

Os dois se disseram surpresos por Revolução ao contrário estar sendo apresentado no Festival. A circulação de filmes como este é quase impossível, afirmaram. O YouTube e as redes sociais foram citados como as melhores maneiras de propagação e, por isso, são frequentemente utilizados pela equipe.

Como defendido pelo grupo protagonista do filme, Cavallazzi também acha errado considerar as corporações como pessoas, afinal elas não morrem e não podem ser presas. A diretora assumiu: “Nós somos o motivo. Isso é nossa culpa. Nós damos poder a isso tudo. E se nós parássemos de pagar os impostos? Se eu não acho justo, eu não deveria pagar. Mas não, nós abaixamos a cabeça”, declarou, criticando o povo que se cala frente às injustiças.

Cavallazzi disse tentar comprar o mínimo possível e reciclar, apontando também que muito do que vai para o lixo poderia ser usado novamente: a sociedade tem que parar de consumir o que não é necessário. Smith, por sua vez, criticou a junção do dinheiro com a política. Segundo ele, deveria haver uma luta por uma lei que proíba que as corporações invistam na política.

Fechando o bate-papo, Cavallazzi foi indagada com relação aos seus motivos pessoais para a realização da obra. Emocionada, afirmou que, em uma viagem a Guiné, um país com recursos, notou que muitos não conseguiam sobreviver em razão das péssimas condições. Essa situação lhe causou revolta, e ela quis começar uma batalha por justiça. “Eu comecei lutando com uma câmera, mas se eu não tiver uma câmera eu luto de qualquer forma. Só não luto com bombas porque violência traz violência”, colocou a diretora.

Texto: Juliana Rosa





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