Problemática da violência de Estado é debatida no Cine Encontro Plateia interessada encheu a sala do Cine Encontro nesta terça-feira (30) para conversa sobre O estopim, de Rodrigo Mac Niven
A terça-feira (30) na Sede do Festival começou com um debate emocionante sobre O estopim, documentário de Rodrigo Mac Niven que investiga e expõe o caso de Amarildo, assassinado por policiais militares dentro da sede da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha em julho de 2013.
O diretor contou que percebeu que havia um filme a ser feito quando conheceu Duda, morador da favela da Rocinha e personagem que funciona como espinha dorsal da narrativa. Duda, aliás, também estava no Cine Encontro, e disse que ao assistir a obra experimentou uma sensação de dever cumprido. “Era uma necessidade sair do anonimato, dos lugares que não são vistos, vulneráveis. Eu vi muitos amigos e familiares serem mortos e torturados por policiais ali onde eu moro, e eu daria qualquer coisa para que essas informações chegassem à população. Para que soubessem que o que a mídia tradicional e o poder policial falam não é sempre verdade”.
MC Leonardo, outro personagem importante do documentário e autor da música "Tá tudo errado", destaque no filme, sublinhou que não havia melhor lugar para sua canção do que O estopim. Trouxe ainda para o primeiro plano diversas questões em torno da problemática da violência de Estado e da atual guerra contra a sociedade civil, principalmente a que mora nas favelas.
A parte ficcional da trama foi discutida com Brunno Rodrigues, ator que interpreta Amarildo. Rodrigues disse que o processo de preparação do personagem foi importantíssimo e muito profundo, e que Mac Niven foi um diretor excepcional ao auxiliá-lo nessa tarefa. Ressaltou ainda que sua experiência de pesquisa e imersão no universo retratado foi fundamental para ele como artista e como cidadão, e que toda pessoa deveria ir atrás de mais conhecimento sobre o que acontece nas comunidades de nossa cidade.
A produtora, Mariana Genescá, revelou que foi tudo muito orgânico e colaborativo: “O filme foi feito sem dinheiro algum. Ele mobilizou um monte de profissionais que quiseram participar por acreditarem na causa. A gente não tinha tempo, não dava pra ficar captando recursos, esperando financiamento. Tinha que ser feito agora, pelo timing dos acontecimentos. Então foi dinheiro pra gasolina, pão com queijo no set e o resto foi amor ao que fazíamos. Os profissionais doaram seu talento, realmente”.
Neto de Oliveira, diretor de fotografia, explicou que as imagens de arquivo foram inseridas de forma natural, como parte da linguagem adotada. Já Fernando Moura, diretor musical, destacou que o que o atraiu em O estopim foi ver que, mesmo tratando de um assunto tão sério e delicado, a produção conseguia ter uma beleza artística muito grande. “Foi um prazer e uma honra participar dessa equipe”, disse.
Questionados sobre o futuro do filme, diretor e produtora falaram que estão trabalhando para exibi-lo em um circuito de comunidades. “A Rocinha vai ser a nossa sessão de gala”, disse Mac Niven. MC Leonardo apontou que é extremamente urgente que todos vejam esse filme, principalmente os moradores das favelas, que sofrem diretamente com a situação.
“Um filme tão bonito e que ilumina uma questão tão importante não acaba aqui. O debate precisa continuar”, concluiu o jornalista Mauro Trindade, que mediava o Cine Encontro.
O diretor Mac Niven então declarou: “A gente vive uma sociedade contagiada pelo medo, mas a coragem também contagia, e eu quero que esse filme contagie pela coragem”.
Texto: Juliana Shimada
Fotos: Luiza Andrade
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