Publicado em 11/10/2016

Na tarde de ontem (segunda-feira, 10 de outubro), o Cine Encontro apresentou o documentário Entre os homens de bem, sobre o polêmico político Jean Wyllys. A sessão foi seguida por um debate com os diretores Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, o produtor executivo e roteirista Maurício Monteiro Filho e o diretor de fotografia Caue Angeli. A conversa com a equipe do longa foi mediada por Lana de Holanda Jones, mulher transexual e pesquisadora de cultura popular pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Entre os homens de bem acompanha Jean Wyllys no período de 2011 a 2014, ou seja, até o início de seu segundo mandato como deputado federal. O filme se dedica principalmente à vida de Wyllys entre as paredes do congresso, debruçando-se sobre a forte oposição que o deputado sofre por parte de políticos conservadores, principalmente os que integram a chamada bancada evangélica, devido à sua homossexualidade declarada e por conta de seus projetos de lei que visam à inclusão social da comunidade LGBT.

O debate foi iniciado com uma fala de Jones, que ressaltou a importância do filme nos dias atuais, diante do crescente conservadorismo e da polarização do cenário político brasileiro. O diretor Carlos Juliano de Barros também endossou a ponte que o filme faz com a atualidade e disse que o considera um prólogo da crise de representatividade política atual, da ascensão das forças ultraconservadoras e do fundamentalismo religioso no país. A forte presença de políticos com essas posturas no documentário e a forma aberta e explícita com a qual eles se opõem a Wyllys, mesmo sabendo que apareceriam em um documentário sobre o deputado, surpreendeu a plateia e foi tema de diversas falas.

Em resposta a uma indagação sobre o processo de autorização para o uso de imagem de políticos de postura conservadora, como Jair Bolsonaro e o pastor Marco Feliciano, o diretor Caio Cavechini disse que o antagonismo à figura de Jean Wyllys e ao que ela representa acaba sendo algo eleitoralmente vantajoso para os políticos. “A direita saiu do armário. Há hoje um certo orgulho em assumir essas posições”, explicou. O roteirista e produtor executivo Maurício Monteiro Filho concordou com o diretor e ainda manifestou seu receio de que o filme ajude a propagar a mensagem de extrema direita de alguns de seus personagens.

Barros, que entrevistou deputados que se declaram ferrenhamente opostos a Wyllys, disse que eles se sentiam muito à vontade e caracterizou os tempos atuais como “eminentemente dialéticos” em relação à política. Se essas questões constituem a espinha dorsal do filme, momentos íntimos do protagonista e sua história pessoal também são trazidos à tona. O processo de construção da intimidade com uma das figuras mais públicas do país também foi uma questão levantada no debate.

 Barros atribuiu a fluidez presente no “jogo de aproximação e afastamento da vida de Jean” à fotografia, dirigida por Caue Angeli, e disse que a intimidade com o deputado foi algo construído pela equipe ao longo dos três anos em que o acompanharam. Frente a essa informação, a mediadora indagou sobre o processo de financiamento para um tempo de filmagem tão longo, tendo em vista o caráter de produção independente do filme. Em resposta, Monteiro Filho falou sobre as dificuldades de conseguir financiamento por parte de empresas, que não queriam seu nome associado à polêmica que ronda a figura de Wyllys. Ele agradeceu ao Canal Brasil, que entrou como coprodutor do projeto e frisou a postura corajosa da emissora, a única que apostou no filme antes do produto final. O restante do apoio foi conseguido através de uma campanha de financiamento coletivo no site Catarse, a segunda maior ação de audiovisual na história da plataforma, que rendeu 130 mil reais aos realizadores. A opinião do próprio Jean Wyllys sobre o filme também foi uma curiosidade comum entre os presentes. Barros disse que o deputado gostou do documentário, mas, devido a alguns episódios mais pessoais retratados, o achou “doloroso de ver”, numa declaração tão polêmica quanto a sua própria persona.

Texto: Duda Gambogi

Fotos: Dave Avigdor




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