Pedágio: Maeve Jinkings estrela filme que combate a homofobia com abordagem insólita sobre 'cura gay' Filme dirigido por Carolina Markowicz foi exibido no Cine Odeon nesta quinta-feira (12/10)
Sátira idiossincrática sobre intolerância, família e religião, Pedágio estreou no Festival do Rio após ser premiado no Festival de Toronto e ser exibido no Festival de San Sebastián. O filme contou com uma sessão seguida de debate com a realizadora Carolina Markowicz no Cine Odeon nesta quinta-feira (12/10).
O enredo traz uma abordagem insólita para as chamadas terapias de conversão sexual e apresenta Maeve Jinkings no papel de uma cobradora de um pedágio que deseja submeter seu filho (Kauan Alvarenga) à “cura-gay” promovida por um badalado pastor estrangeiro. Para inscrever o rapaz no programa que promete transformar o adolescente em heterossexual, Suellen acaba recorrendo a meios ilegais para arrecadar dinheiro.
No projeto, rebater a homofobia com deboche serve para inverter a dinâmica promovida por figuras de extrema-direita. “A gente vive essas violências, esse escárnio. Temos um deputado que coloca peruca para ridicularizar a população trans, uma senadora que era ministra dos Direitos Humanos que falava que as crianças não podiam brincar com a Frozen porque ela era lésbica. O patético é usado contra a gente e o Pedágio tenta realizar uma sátira a isso”, comentou a diretora, que também assina o roteiro do filme.
Figura central no drama familiar que o filme apresenta, Maeve Jinkings contou que foi preciso realizar um esforço de empatia e generosidade para viver uma personagem com valores distantes dos seus. “Ela é extremamente violenta com o filho, mas ela não se dá conta disso. Ela também é alvo de muita violência e está tentando sobreviver desesperadamente. Ela é uma mãe sozinha que vive uma rotina dura de trabalho. Entender o que agia sobre ela foi importante para construir relação com Tiquinho e torná-la real.”
O longa-metragem foi rodado na cidade Cubatão, onde Markowicz morou por quase dois meses durante as filmagens. O município é uma espécie de personagem coadjuvante no filme e exerce um fascínio na diretora há muitos anos, desde a infância, quando ela observava as luzes do complexo industrial de Cubatão no trajeto entre a capital São Paulo e o litoral paulista.
“A cidade é muito contraditória. É uma cidade industrial que já foi muito poluída, mas, ao mesmo tempo, é envolta pela Mata Atlântica. Cubatão tem texturas e camadas que são muito presentes em tudo. Tem fuligem, fumaça, vapor, uma densidade no ar”, opina a cineasta.
O título do filme apresenta uma metáfora para essa tentativa de interromper o desenvolvimento de Tiquinho, personagem de Kauan Alvarenga. Markowicz contou que só se deu conta desse “duplo sentido óbvio” em um segundo momento do desenvolvimento do projeto.
Alvarenga, que trabalhou com Markowicz em O Órfão, premiado com a Palma Queer de Melhor Curta em Cannes, avaliou no debate que interpretar Tiquinho o impactou pessoalmente. “Aprendi muito com ele, aprendi a ter maturidade. Descobrir facetas e camadas que ele tem foi difícil.”
Texto: João Vitor Figueira
Foto: Ian Melo
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