Publicado em 08/10/2017

O poeta Torquato Neto marcou a história da arte brasileira com o seu engajamento na poesia, na música e no cinema nos deixando um belo legado após o seu suicídio em novembro de 1972. Torquato marcou época junto aos grandes nomes do movimento tropicalista no fim dos anos 1960, ao lado de Gilberto Gil e Caetano Veloso, além de fazer parte da cultuada coletânea organizada por Heloísa Buarque de Hollanda sobre a poesia marginal da década de 1970, “26 Poetas Hoje”, junto com poetas atualmente consagrados como Ana Cristina Cesar, Wally Salomão, Chacal, Cacaso, entre outros.

O diretor Eduardo Ades e o pesquisador e crítico Marcus Fernando se uniram na realização do documentário “Torquato Neto – Todas as Horas do Fim” sobre o poeta piauiense, e emocionaram o público presente no CCLSR - Cine Odeon NET Claro na première do filme no último sábado (07). Em meio à presença de um grande número de espectadores e convidados que foram prestigiar o documentário, o Eduardo conversou com o Festival do Rio sobre a produção.

Qual foi o significado do Torquato na sua vida a ponto de você realizar um documentário sobre ele?

O Torquato fala uma coisa muito importante “Acredite na poesia e viva. Viva ela!”. E quando ele se engajava em seu processo produtivo e criativo, ele ia de corpo e alma. Quando a gente entrou de cabeça para fazer esse filme sobre ele, incorporamos muito dessa potência. Tem um tanto de pulsão de morte, mas que é muito produtivo também. É como deixar morrer para que uma coisa nova venha a nascer. Acho que a gente foi incorporando essa sede de rupturas que vem da poesia e da alma poética e de vida dele. E a gente incorpora isso na nossa vida. É impossível estarmos trabalhando sobre isso friamente. É algo que a gente traz para gente.

Como foi o processo de produção do filme?

A gente trabalhou no início como se fossem dois filmes. Começamos a fazer um em que haviam entrevistas filmadas. Então montamos tudo, mas o que estava ali não estava satisfazendo a gente. Não conseguíamos chegar no Torquato, atingir o que era ele. Entendemos que não era esse o filme que a gente precisava fazer. Percebemos que seria um outro filme em que a gente não tinha as entrevistas filmadas. Que seria algo de arquivos onde a gente explorasse um imaginário mais livre para recriar e imaginar a vida dele. Então nos utilizamos de filmes que ele viu e gostou, e que estavam na cabeça dele. São imagens que povoaram o seu imaginário. E foi o segundo filme que a gente fez a partir daquele primeiro.

E como foi essa parceria com o Marcus Fernando?

Foi a primeira vez que fiz um filme em parceria e foi muito legal. São duas maneiras de ver. São duas pessoas que percebem coisas diferentes. Às vezes você quer fazer uma coisa intuitivamente, mas tem que passar pelo crivo de uma argumentação e da percepção do\ outro. E acho que isso foi fortalecendo o filme cada vez mais. É como se fôssemos sempre o espectador do outro. Eu dava uma ideia, e ele, como espectador, falava “Essa ideia é ruim”, e vice-versa. E só quando as nossas ideias eram encaixadas é que a coisa fluía. Então acho que isso produziu um filme mais forte e mais potente.

Sinopse

​Torquato Neto (1944-1972) vivia apaixonadamente as rupturas. Atuando em múltiplas frentes – no cinema, na música, no jornalismo –, o poeta piauiense engajou-se ativamente na revolução que mudou os rumos da cultura brasileira nos anos 1960 e 1970. Foi um dos pensadores e letristas mais ativos da Tropicália, parceiro de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jards Macalé. Junto à arte marginal, radicalizou sua atuação e crítica cultural, ao lado de Waly Salomão, Ivan Cardoso e Hélio Oiticica. Por fim, rompeu com sua própria vida. Suicidou-se no dia de seu aniversário de 28 anos.​




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