Os festivais de cinema como cenário de um amor Love Film Festival, de Manuela Dias, foi o último filme da Première Brasil no Cine Encontro deste ano
O último debate da Première Brasil nesta edição de 2014 do Festival do Rio ocorreu na tarde de ontem (segunda-feira, 6 de outubro) na Sede do Festival. A mesa, mediada por Francisco Russo, editor do site AdoroCinema, debateu o longa-metragem de Manuela Dias, Love Film Festival, que narra os encontros e desencontros do casal Luzia (Leandra Leal) e Adrián (Manolo Cardona) tendo por cenário festivais de cinema pelo mundo.
Russo iniciou a conversa apontando o caráter ambicioso do projeto e questionando a realizadora com relação à gênese da ideia e ao planejamento necessário para colocá-la em prática. Dias revelou que o conceito lhe surgiu em 2009, quando viajou à cidade de Guadalajara para participar como jurada de um festival de cinema. A cineasta informou ainda que a equipe inicial era formada por apenas sete pessoas, que abraçaram a ideia e doaram seu esforço criativo, tornando-se também produtores do filme. Com relação ao cronograma das filmagens, que foram feitas em quatro países ao longo de cerca de seis anos, elucidou a intenção de que o filme, que era rodado durante uma semana a cada ano, incorporasse as transformações físicas dos atores ao longo desse espaço de tempo, assim como as distâncias percorridas. “Sempre existe, em qualquer relação, uma distância intransponível entre duas pessoas”, ponderou ela, apontando ainda que seu desejo era falar do “amor real, líquido, cheio de problemas”.
O produtor Roberto Vitorino citou o título mais recente do diretor norte-americano Richard Linklater, Boyhood, filmado ao longo de doze anos, e explicou que esse tipo de projeto envolve sim um enorme risco, o que afugenta possíveis investidores. Vitorino falou ainda das dificuldades enfrentadas para conciliar a agenda de todos os envolvidos e agradeceu aos festivais de cinema que apoiaram a empreitada.
Pablo Baião, que assina a fotografia, destacou a capacidade de improviso da equipe diante da falta de recursos como equipamentos de luz, sublinhando ainda que o formato digital possibilita esse tipo de experimentação. Com relação a ter se associado ao filme sem a perspectiva de um salário, Baião colocou: “Tem gente que gosta de subir montanhas ou de nadar, eu gosto de filmar. Se eu estiver filmando no meu tempo livre, eu tô feliz”. Já o compositor Bid, responsável pela trilha sonora do filme, revelou que seu processo de criação foi inteiramente intuitivo, tendo levado apenas dez dias.
Sobre o trabalho de direção, assinado por Dias e outros três diretores, a realizadora explicou que, ao idealizar o projeto, preocupou-se em convidar outros cineastas para se unirem à proposta por acreditar não ter a experiência necessária para assumir, sozinha, a direção. No entanto, Dias colocou que, como desejava ter controle do resultado final, preferiu não oferecer a função a apenas um nome: “Eu pulverizei a direção como uma estratégia de guerra”, brincou ela. Neste ponto, Vitorino esclareceu que se trata de um modelo semelhante ao empregado na televisão norte-americana, em que os autores do conceito mantêm o controle criativo dos projetos, com cada episódio sendo dirigido por uma pessoa diferente.
Dias elogiou a união da equipe em torno da obra, a despeito da falta de contrapartidas financeiras imediatas, e expressou sua felicidade em apresentar Love Film Festival pela primeira vez justamente do âmbito do Festival do Rio, sublinhando a forte conexão afetiva entre o longa e o universo dos festivais.
Texto: Maria Caú
Voltar