On Off: suspense filmado em plano-sequência e estrelado por Caio Blat aposta na teatralidade O diretor Lírio Ferreira, o protagonista e a equipe do filme falaram sobre o processo de produção do filme da Première Brasil em debate com espectadores.
“Se você não propor alguma coisa nova, não faz sentido”, disse Lírio Ferreira ao apresentar On Off durante os debates da Première Brasil no Cine Odeon - CCLSR neste domingo (8/10). Na disputa pelo Troféu Redentor na competição oficial do Festival do Rio em 2023, o longa-metragem adapta o suspense italiano “Uma Simples Formalidade” (1988), de Giuseppe Tornatore, com uma série de liberdades, a principal delas, estética. O filme dirigido pelo realizador pernambucano é rodado em apenas uma tomada.
O crítico Daniel Schenker, que mediou o debate, ressaltou que o longa-metragem se insere no que se convencionou chamar de filme teatral, um cinema voltado para a valorização do trabalho dos atores e do texto. “Ainda que no caso do On Off, o espaço seja muito importante. O filme foi filmado na Fábrica Bhering [no bairro do Santo Cristo, no Rio de Janeiro] e é um espaço realista ao mesmo tempo que tem uma certa suspensão do realismo”, avaliou.
No enredo, Caio Blat interpreta um angustiado escritor que já experimentou a fama e a aclamação, mas atualmente vive recluso e avesso à ideia de publicar novos romances. Numa noite de chuva, ele é detido pela polícia vagando sem documentos ou lembranças recentes. Na delegacia, o protagonista é submetido a um interrogatório por um inspetor de polícia vivido por Cadu Fávero que investiga um assassinato misterioso ocorrido horas antes.
A gênese do projeto se dá quando Cadu Fávero adapta o roteiro do filme francês do mesmo diretor de Cinema Paradiso para o teatro durante a pandemia. Sem eventos presenciais, a peça foi encenada em uma live teatral dirigida por Ferreira. “Foi um exercício bacana. Deu tão certo que a gente se juntou e decidiu fazer um filme para devolver [essa história] para o cinema”, contou o diretor, que optou por rodar o filme em uma única tomada de 80 minutos.
Para executar a proposta de produzir um filme em um único plano-sequência, a equipe do filme fez alguns ensaios com câmeras de celular, depois usou as câmeras de cinema na mão e, por fim, ensaios com steadicam. “Foi um balé para quem via de fora. Eu nunca na minha vida fiquei tanto tempo entre o ‘ação’ e ‘corta’”, revelou o diretor. “Era uma tensão muito grande. Quando dava o ‘corta’ parecia um gol do Sport Club do Recife.” O diretor ainda revelou que a equipe filmou ao todo cerca de oito planos de 1 hora e 20 minutos para encontrar a versão definitiva.
Fã do longa original desde a adolescência, Caio Blat contou durante o debate que chegou a fazer uma cópia pirata de Uma Simples Formalidade em VHS quando tinha 13 anos para poder assistir ao filme sempre que quisesse. “A performance do Gérard Depardieu foi uma das coisas mais inspiradoras quando eu estava me tornando um ator”, recorda Blat, que assume na versão brasileira o mesmo papel que o artista que tanto admirou interpretou no filme original.
O ator conheceu Cadu Fávero, com quem contracena em On Off, quando ambos dividiram o palco em uma adaptação de Dostoiévski para o teatro. “Ali se formou uma dupla. A gente teve uma troca muito forte”, conta. Da parceria, surgiu o convite para participar do projeto dirigido por Ferreira e roteirizado por Fávero, o que Caio encarou como a “realização de um sonho”.
A produtora Clélia Bessa contou que montou uma verdadeira operação para garantir o bem-estar de Joaquim Torres, que atuou como operador de câmera no filme, uma vez que cada tomada leva 80 minutos contínuos e o peso do equipamento chega a 35 kg. “A gente tinha massagista e acupunturista”, contou. As filmagens levaram sete dias, com cinco dias de ensaios no set e dois dias em busca da tomada perfeita.
O debate sobre On Off foi acompanhado pelo cineasta Ruy Guerra, que tomou a palavra ao final da sessão e, se direcionando à equipe do filme, encontrou uma maneira peculiar de expressar que gostou do filme. “Como eu sou um cineasta, eu sou um ser mesquinho. Obrigatoriamente, o artista é um ser mesquinho. Neste momento eu estou com uma profunda inveja de vocês aí”, disse o realizador, arrancando risos do público.
Texto: João Vitor Figueira
Voltar