Publicado em 10/10/2015

Medidador do debate de ontem (sexta-feira, 9 de outubro) no Cine Odeon, em torno do filme Aspirantes, Luiz Carlos Merten, do jornal O Estado de S. Paulo, abriu a conversa já expressando vivamente seu apreço pelo filme, primeiro longa-metragem do diretor Ives Rosenfeld. “Ele me tocou não só do ponto de vista estético, mas também pelo lado humano”, explicou o jornalista.

Questionado por Merten com relação à sua experiência prévia com cinema, em que constam um curta como realizador e diversos trabalhos como técnico e editor de som, Rosenfeld declarou que sua intenção sempre foi dirigir, mas o departamento de som foi a porta de entrada que ele encontrou para os sets de filmagem, lugares em que pôde aprender de perto com cineastas como Walter Carvalho e Allan Ribeiro. Rosenfeld informou ainda que seus trabalhos anteriores o ajudaram na concepção da sonoridade da obra: “Eu me dei conta de que as sequências sem diálogo eram um prato cheio prum desenho de som mais interessante”, ponderou.

Sobre a gênese do roteiro, que narra as frustrações de um jovem que sonha em se tornar astro do futebol enquanto treina num time de uma pequena cidade do Rio de Janeiro, Rosenfeld e o corroteirista, Pedro Freire, explicitaram a intenção de que o futebol fosse apenas um pano de fundo para que eles pudessem tratar das relações entre os personagens centrais. O diretor revelou ainda que seu corroteirista, Pedro Freire, não é um grande entendedor do esporte, enquanto ele e o fotógrafo, Pedro Faerstein, presente na conversa, são apaixonados pelo assunto. Nesse ponto, Freire afirmou que o futebol, que permanece como uma das únicas oportunidades de ascensão social rápida para um jovem de classe baixa e sem estudo, é um tópico bastante interessante para pensar o Brasil.

Os membros do elenco presentes no debate ressaltaram a importância da preparação, de cerca de um mês. Os jovens atores Ariclenes Barroso e Sérgio Malheiros, que interpretam os aspirantes a futebolistas do filme, sublinharam a convivência com os jogadores reais do time do Bacaxá, com quem passaram a treinar todos os dias no período anterior às filmagens. “Montou-se um time de verdade, ficou bem crível”, opinou Malheiros, enquanto Barroso lamentou o corte de algumas cenas que retratavam suas habilidades com a bola.

As atrizes Julia Bernat e Karine Teles, que fazem mãe e filha na trama, falaram de outro aspecto da preparação de elenco: os exercício de improvisação. “Você descobre os personagens e desenvolve as relações na preparação”, elucidou Teles. Já Bernat destacou a sintonia com sua companheira de cena e elogiou a opção da fotografia pelo uso dos planos longos, que permitem um mergulho nas performances sem muitas interrupções, valorizando o trabalho dos atores. Rosenfeld salientou o comprometimento do ator Julio Adrião, que também participou da conversa e com quem já havia trabalhado no curta O dia em que não matei Bertrand. “Para além do talento monstruoso dele, o Julio foi de uma generosidade incrível”, atestou.

A escolha pela cidade de Saquarema, na Região dos Lagos, para sediar as filmagens foi definida pelo realizador como oportuna, já que eles desejavam representar um microcosmo do Rio de Janeiro. Rosenfeld frisou ainda o excelente trabalho da produtora local, Ligia Guimaraes Gurgel, que lhe apresentou a cidade e fez com que ele se sentisse confortável para falar desse lugar. Além disso, o diretor comentou o desejo de fugir dos pontos turísticos do local. “Saquarema é uma cidade praiana e nós filmamos uma Saquarema cinza. Aspirantes é um filme duro, cru, então a gente naturalmente evitou os cartões postais da região”, esclareceu.

Com relação aos próximos passos, a produtora Tatiana Leite contou que o longa, premiado no festival de Locarno do ano passado na categoria de melhor filme em finalização, vem recebendo muitos convites para festivais e deve chegar aos cinemas em março de 2016.

Texto: Maria Caú

Fotos: Carolina la Cerda




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