O roteiro como um “documento de passagem” Periscópio, de Kiko Goifman, debatido no CE de ontem, traz o crítico Jean-Claude Bernardet como ator e roteirista
Bernardet, que atua em dois longas-metragens da seção competitiva da Premiere Brasil deste ano, contou que vem se afastando do trabalho de crítico que o consagrou principalmente por conta de seus problemas de visão, passando a se dedicar a outras funções dentro do universo do cinema. Ele escreveu Periscópio ao lado de Goifman, e comentou os desafios dessa criação a dois, que definiu como “um trabalho de provocação e estímulo”. O realizador, por sua vez, elogiou a atuação de Bernardet e declarou sua felicidade com essa união criativa: “É um luxo trabalhar com o Jean-Claude”, declarou. Ainda sobre essa nova carreira, o crítico explicou: “O meu ideal não é me tornar um ator de personagem, mas um ator performático”.
Ambos comentaram a liberdade em relação ao roteiro que pautou as filmagens, colocando que havia espaço para o improviso, que por vezes inutilizava certas sequências previstas originalmente ou sugeria outras. “O roteiro é um documento de passagem”, explicou Bernardet sobre o processo de construção filme, para depois acrescentar: “As alterações do roteiro não correspondiam a falhas do roteiro, mas a um método de trabalho”.A diretora de fotografia, Julia Zakia, falou da liberdade de invenção que experimentou nesse contexto, comentando que a iluminação do filme não seguiu uma perspectiva realista. A fotógrafa ressaltou ainda a importância das duas semanas de preparação antes das filmagens, em que as equipes de elétrica e maquinaria puderam se organizar, e salientou o intercâmbio com a diretora de arte Maíra Mesquita.
Ao fim, Bernardet aplaudiu a originalidade da obra de Goifman, colocando: “Alguns diretores, como Kiko, estão introduzindo uma outra relação entre roteiro, filmagem e montagem”, disse, apontando que o realizador explora o potencial criativo de todas essas etapas.Texto: Maria Caú
Fotos: Viviane Laprovita
Voltar