O RETRATO ESTILIZADO DO BRASIL CONSERVADOR EM "MEDUSA" Cineasta Anita Rocha da Silveira e equipe conversam com o público sobre influências, mistura de gêneros e mulheres na tela
Estação NET Botafogo lotado na segunda rodada de debate da Première Brasil sexta-feira, 17/12. O jornalista Luiz Carlos Merten recebeu no palco a realizadora do longa-metragem Medusa, Anita Rocha da Silveira, a produtora Vania Catani, a montadora Marília Moraes e as atrizes Mari Oliveira e Bruna G.
Explicando as inspirações da obra, Anita conta que começou a pensar o projeto em 2015 e deslanchou em 2016, com o avanço da onda conservadora no Brasil e o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Sua pesquisa envolveu acompanhar notícias sobre grupos de mulheres que se juntavam para bater em outra por suposta promiscuidade, influenciadores da ultradireita e religiosos, e juntar com a mitologia grega que a fascina desde a infância e referências como o clássico Suspiria, de Dario Argento, para falar de machismo estrutural.
Questionada sobre o gênero do filme, a diretora afirma que vê Medusa como mistura de fantasia, comédia, horror e musical. Ela cita como inspiração Corra!, de Jordan Peele, por conta da crítica social que une diversos elementos, e também a obra inclassificável de David Lynch. Anita confidencia que não consegue escrever numa caixinha definida e quer sempre colocar um pouco de tudo.
Falando sobre a parceria de quase dez anos com a cineasta, Mari Oliveira, que interpreta a protagonista Mariana, lembra que nunca havia feito nada antes de passar no teste para Mate-me por favor, trabalho anterior de Anita, e que "aparentemente fez alguma coisa certa" para ter sido convidada a voltar em Medusa. Bruna G, que está em seu primeiro filme, observa que passou por processo parecido com o da colega anos atrás, se candidatando ao elenco após ver um cartaz de chamada colado na parede.
Ao comentar sobre a estética buscada, Anita ressalta que manteve o mesmo fotógrafo e a mesma diretora de arte de Mate-me, mas desta vez não quis repetir o que fez naquela ocasião, de incluir as cores somente na pós-produção. "Para mim é muito importante criar uma realidade que não é a vida como ela é, criar outro universo, com cores que a gente não vê no dia a dia", explica a diretora, destacando que definiu o verde como base, tendo o vermelho de contraponto e um azul no meio. Respondendo sobre outras influências, ela lista Brian de Palma dos anos 1970, o italiano Mario Bava, a francesa Claire Denis - em termos de mise-en-scène dos corpos -, e Yann Gonzalez.
Questionada pela plateia sobre seu interesse recorrente na juventude feminina, Anita reflete que cresceu sentindo falta de ver filmes protagonizados por grupos de garotas e essa pode ser sua contribuição. Ela observa que em Mate-me as atrizes tinham 14,15 anos, em Medusa a idade subiu para os 20 e talvez em seu próximo projeto as personagens sejam mais velhas, ainda que considere mais fácil escrever sobre uma geração pela qual já passou.
Texto: Taiani MendesFoto: Frederico Arruda
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