O homem das multidões no Cine Encontro O longa de Cao Guimarães e Marcelo Gomes foi discutido por um público animado nesta segunda-feira
O segundo debate desta segunda-feira (30) na Sede do Festival contou com nove membros do elenco e da equipe de O homem das multidões (longa de Cao Guimarães e Marcelo Gomes), que falaram sobre o processo de realização do filme.
O mediador, o jornalista Luiz Carlos Merten, abriu a mesa redonda questionando como se efetivou a parceria entre os diretores. Cao Guimarães explicou que o projeto faz parte de sua trilogia de filmes sobre a solidão, que engloba também os longas A alma do osso e Andarilho, e informou que convidou Gomes para dividir com ele essa livre adaptação de um conto de Allan Poe porque eles já haviam trabalhado juntos em algumas ocasiões, experimentando uma sintonia bastante proveitosa.
Marcelo Gomes acrescentou que, no início, Guimarães pensava mais fortemente o lado plástico do filme, enquanto ele se concentrava na direção de atores, e que essa divisão foi se invertendo ao longo das filmagens. “Eu tinha muito o que aprender com o Cao e ele tinha muito o que aprender comigo”, disse Gomes. Paulo André, que interpreta um dos protagonistas da trama, afirmou que os diretores, apesar de diferentes, se complementam muito bem.
O crítico de cinema Jean-Claude Bernardet, que também integra o elenco, ressaltou as qualidades da adaptação dos diretores: “Houve a transposição da linguagem literária para uma linguagem autenticamente cinematográfica, o que eu acho brilhante”, disse. Sublinhou ainda que sua trajetória como ator se deveu inicialmente à vontade de ampliar seu horizonte crítico e ter uma visão mais global do cinema, mas que agora se tratava de uma escolha mais detida, parte de um processo de reinvenção pessoal. Bernardet salientou também que o filme em questão se encaixa de maneira orgânica na obra de ambos os diretores.
Marcos Moreira, responsável pelo desenho de som do filme, relatou que partiu de um conceito minimalista, e destacou a importância de sua formação musical para seu trabalho, que vai desde a captação do som à sua edição e à trilha sonora.
O produtor Beto Magalhães, que trabalhou em conjunto com João Vieira Jr., explicou que a jornada da produção começou ainda em 2006, e ressaltou as qualidades do formato digital. “O 35mm vai morrer, é uma estrutura muito cara”, sentenciou. O diretor de fotografia, Ivo Lopes Araújo, comentou a escolha da janela no filme, cujo formato quadrado amplia a sensação de solidão vivenciada pelos personagens, já que restringe o campo de visão em torno deles.
O diretor Cao Guimarães e a atriz Sílvia Lourenço falaram ainda sobre o caráter colaborativo da obra, colocando que houve muita liberdade de criação para o elenco como um todo, e que os diretores levaram em conta a intuição dos atores. “O acaso é bem-vindo, temos só que administrá-lo”, afirmou Guimarães.
Texto: Maria Caú
Foto: Viviane Laprovita
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