O Dia que Te Conheci: André Novais Oliveira apresenta crônica naturalista do cotidiano Diretor mineiro apresentou o filme, que compete na Première Brasil, ao público do Cine Odeon na tarde de terça-feira (10/10)
Foto: Ian Melo
O diretor André Novais Oliveira e a equipe do filme O Dia que Te Conheci apresentaram o longa-metragem que compete no Festival do Rio deste ano pela Première Brasil em um debate realizado no Cine Odeon - CCLSR nesta terça (10/10).
“Gosto muito de retratar o cotidiano de uma forma mais direta nos meus filmes”, contou o cineasta mineiro que exerce sua assinatura autoral neste trabalho, propondo uma crônica do cotidiano, com planos longos e uma abordagem mais naturalista para as atuações.
Outra tradição dos filmes do diretor é a presença de seus familiares no elenco — seus pais protagonizam o longa Ela Volta Na Quinta (2014) e o curta Quintal (2015) — e O Dia que Te Conheci traz o irmão do cineasta, Renato Novaes, no papel principal. O ator interpreta Zeca, um homem que tem enfrentado problemas para conseguir acordar cedo para trabalhar em outra cidade da região metropolitana de Belo Horizonte.
O enredo acompanha situações rotineiras do protagonista, da luta contra o despertador ao trajeto de ônibus até a cidade vizinha, onde trabalha como bibliotecário em uma escola. Seus atrasos e faltas o comprometem no trabalho, mas acabam fazendo com que ele se aproxime e aprecie cada vez mais a companhia de Luisa, personagem vivida por Grace Passô.
“Fazer o filme foi muito satisfatório e acabou sendo fácil trabalhar nele porque a Grace deixa a gente muito à vontade. Ela é muito generosa”, disse Renato, elogiando a colega de cena. Os dois trabalharam juntos em no multipremiado Temporada (2018), também dirigido por André Novais Oliveira.
O crítico e professor de cinema Pedro Butcher, que mediou o debate, citou que este filme teria elementos de comédia romântica e André comentou a fala. “Essa questão da comédia romântica não foi muito pensada, mas sim a questão do humor, da tentativa de trazer humor para o filme. Isso vem desde do meu curta Fantasmas, que fiz em 2010. Tem humor e a maioria dos filmes que dirigi aborda relações e relações amorosas.”
Entre as influências que pautaram o projeto estão os estilos do diretor sul-coreano Hong Sang-soo e, principalmente, do iraniano Abbas Kiarostami, em especial no trabalho Um Alguém Apaixonado (2012). “Esse filme me serviu muito de referência, principalmente pela estrutura da narrativa que é, digamos, meio torta”, avalia o cineasta.
Além de cuidar da direção e produção do filme, André Novais Oliveira também assina o roteiro e a montagem do longa-metragem. Em 2020, o realizador se isolou em um sítio onde pudesse se concentrar na escrita do roteiro e driblar um bloqueio criativo. A experiência deu certo e o roteiro foi escrito em apenas dois dias. O projeto ficou engavetado por um tempo até que a produção saiu do papel em outubro de 2022, com 10 diárias de filmagem, incluindo cenas na casa do diretor.
Com pouca experiência como montador, André contou que não sabia qual método usar para a edição, o que, paradoxalmente, apressou o processo. “Acabei ficando tão ansioso durante a filmagem, com tanta empolgação com o filme, que comecei a montar durante a filmagem mesmo. Quando acabaram as filmagens, tinha 70% do filme montado.”
Logo nos créditos iniciais, a música do rapper Djonga ganha destaque na obra. Os irmãos André e Renato são fãs de rap e inseriram uma série de referências à cultura hip hop na obra, seja em diálogos, no figurino (Zeca usa uma camisa com o rosto do rapper carioca BK estampado) e até no elenco, com a participação especial do cantor mineiro FBC no longa.
Nas interações da plateia durante o debate, houve quem dissesse que o uso de músicas orquestradas no longa aludiu aos musicais da Disney, intenção que o diretor confirmou. “Como nos meus outros filmes, a trilha usa músicas que aparentemente não teriam a ver com o filme, uma tentativa de causar uma certa estranheza mesmo.” As composições clássicas que ganham destaque na trilha são de William Grant Still (1895 - 1978), compositor negro norte-americano, também presente na trilha de Ela Volta na Quinta.
Nascido em Belo Horizonte, mas criado na cidade mineira de Contagem, o diretor avalia que filmar a periferia da região metropolitana de BH é algo satisfatório para ele. “Tem uma coisa muito bonita que é ver pessoas de Contagem assistirem aos filmes e se identificarem muito. Alguém já me falou: ‘Nossa, que felicidade ver meu ônibus passar no filme’. Eu, como diretor preto, tive Spike Lee e Zózimo Bulbul como referências, mas é difícil eu ter uma referência contemporânea que venha de onde eu vim.”
Texto: João Vitor Figueira
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