O carnaval paulista desfila no Festival do Rio A exibição do longa Jonas trouxe ao Cine Encontro questões de espaço e sociedade
O filme narra a história de Jonas (Jesuíta Barbosa), morador da Vila Madalena, na capital paulista, que reencontra sua paixão de infância. Branca (Laura Neiva) é filha dos patrões da mãe de Jonas, Janice (Ana Cecília Costa). Um trágico incidente faz com que Jonas sequestre Branca e a leve para dentro do carro alegórico Baleia, parte do desfile de carnaval da escola Pérola Negra. Dentro da Baleia, os dois começam a se envolver amorosamente, enquanto do lado de fora as consequências das ações de Jonas se aproximam de uma inevitável conclusão.
Mota iniciou o debate elogiando o ritmo vertiginoso do filme, entre o drama e o thriller, e o uso que a trama faz de diferentes camadas, como a favela, a casa dos patrões de Janice e a relação com a história bíblica do profeta Jonas, para construir uma narrativa em que os diálogos expositivos não são recorrentes. A diretora respondeu que o sentido dessas camadas acabou surgindo de forma mais clara do que ela imaginara, em grande parte por conta da atuação de Barbosa. O ator, segundo ela, soube traduzir muito bem em sua performance a natureza forasteira do personagem principal, que não se encaixa confortavelmente em nenhuma classificação de etnia e classe social, de forma que muitas cenas acabaram sendo cortadas do filme por se tornarem redundantes diante da sua expressiva interpretação.
Outro ator bastante elogiado por Politi e aplaudido entusiasticamente pelo público foi o jovem Luam Marques, de 16 anos, que intepreta Jander, irmão mais novo de Jonas. O garoto, que tinha 13 anos quando participou das filmagens, contou que “não botava fé que seria ator” e nunca chegou sequer a pensar em teatro antes, mas foi incentivado pela mãe a aproveitar a oportunidade do teste. Politi contou que, dentre as quatrocentas crianças que se apresentaram, apenas Luam era adequado para o papel, pois além de carregar em si todas as características essenciais ao personagem, ainda acabou se provando um ator nato.
A atriz Ana Cecília Costa também contou sobre seu teste, bastante simples, apenas um vídeo filmado com o celular no qual ela improvisava em cima de alguns diálogos da personagem, com um conhecimento bastante superficial do contexto. Assim, como apontou a diretora, Costa criou Janice praticamente sozinha.
Quando perguntada sobre o papel da cidade de São Paulo na narrativa, Politi disse que sempre achou o carnaval paulista um espetáculo desconjuntado, pois trazia o contraste de um ambiente frio e inóspito com o colorido de alegorias e fantasias. Ela revelou ainda que a inspiração principal para a história surgiu ao observar os carros alegóricos que ficavam guardados à beira da marginal e a paisagem estranha que proporcionavam à metrópole.No que diz respeito à questão social presente no filme, expressa na relação entre patrões e empregados, Politi comentou que, ao contrário de outros filmes nacionais, como Casa grande, de Fellipe Barbosa, e Que horas ela volta?,de Anna Muylaert, nos quais esse é o assunto principal, em Jonas a temática se constrói com um pano de fundo, ainda que essencial ao desenvolvimento dos personagens. Ao ser questionada sobre a onda recente de filmes abordando o tema, a diretora afirmou: “Entramos pela porta lateral, que é o lugar mais apropriado para isso, e estamos conscientizando pelas beiradas”.
Texto: Vinícius Spanghero
Fotos: Natália Alvim
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