Publicado em 23/10/2018

Novas produções de diretores consagrados de diferentes gerações marcam a programação do Festival do Rio 2018. Alguns deles, premiados nos maiores festivais do mundo. Espalhados por diferentes mostras, estes filmes trazem uma seleção do que se produziu de mais relevante no cinema mundial em 2018.

Um dos filmes mais aguardados é “Imagem e Palavra” (Le Livre d'image), de Jean-Luc Godard. Narrado pelo próprio diretor, de 87 anos, o longa mostra o mundo árabe e ocidental com imagens de diversas origens, como filmes antigos, fotografias, imagens de arquivo e, por meio de uma linguagem que remete aos filmes de terror, retrata a violência do mundo contemporâneo. Por sua atualidade e relevância, o filme recebeu a primeira Palma de Ouro Especial da história, no Festival de Cannes.

Outro medalhão no Festival é Spike Lee, que dirigiu “Infiltrado na Klan” (BlacKkKlansman). Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Ron Stallworth, um policial afro-americano de Colorado Springs, que consegue se infiltrar com sucesso na Ku Klux Klan com a ajuda de um colega judeu, Flip Zimmerman. Juntos, eles pretendem expor e derrubar a organização que espalha o discurso de ódio pelo país. Produzido pela equipe de “Corra!” (vencedor do Oscar de melhor roteiro original em 2018), o longa-metragem foi o vencedor do Grand Prix do Festival de Cannes. 

Matt Dillon, Bruno Ganz e Uma Thurman são as estrelas deA Casa que Jack Construiu”, do polêmico diretor Lars Von Trier. Durante um encontro imprevisto na estrada, o arquiteto Jack mata uma mulher. O prazer que o evento provoca faz com que ele passe a assassinar dezenas de pessoas. Diante do descaso das autoridades e da indiferença dos habitantes locais, Jack não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executá-los aos olhos de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico. Mais tarde, ele compartilha seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio, numa jornada rumo ao inferno.

O novo filme de Gus Van Sant, “A Pé Ele não Vai Longe” é inspirado na biografia do cartunista John Callahan. Depois de quase perde a vida num acidente de carro, a última coisa que Callahan (Joaquin Phoenix) pretende fazer é deixar de beber. Mas quando relutantemente entra num tratamento – com o encorajamento da namorada (Rooney Mara) e do padrinho (Jonah Hill) – ele descobre o dom de criar irreverentes tirinhas de jornal, que acabam lhe dando fama internacional e uma esperança na vida.

Em “Guerra Fria”, o diretor polonês Pawel Pawlikowski conta uma história apaixonada e improvável entre duas pessoas que se encontram em uma época dividida. Entre a Polônia stalinista e a Paris boêmia dos anos 50, um músico amante da liberdade e uma jovem cantora com histórias e temperamentos distintos vivem um amor impossível em um tempo impossível. Do mesmo diretor de Ida (2013), vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o longa-metragem foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, onde ganhou o Prêmio de Melhor Diretor. Indicado ao People’s Choice Award no Festival de Toronto. 

O diretor Mike Leigh leva para o cinema um retrato épico dos eventos ligados ao infame Massacre de Peterloo, de 1819, em que protestos pacíficos pró-democracia em St Peter's Field, Manchester, resultaram em um dos episódios mais sangrentos da história da Inglaterra. No evento, o governo britânico atacou uma multidão de mais de 60 mil protestavam contra os altos níveis de pobreza. O massacre foi um momento definidor da democracia britânica e teve papel importante na fundação do jornal The Guardian. O filme “Peterloo” fez parte da seleção do Festival de Veneza 2018.

O ator Willem Dafoe interpreta Vicent Van Gogh em “No Portal da Eternidade”, de Julian Schnabel. Nas aldeias de Arles e Auvers-sur-Oise, onde se refugiou para escapar das pressões de Paris, o pintor é tratado gentilmente por alguns, como Madame Ginoux, proprietária do restaurante local, e brutalmente por outros. Seu amigo Paul Gauguin, após uma convivência intensa, se afasta. Seu amado irmão e negociante de arte, Theo, é inabalável em seu apoio, mas nunca consegue vender uma única pintura de Vincent. O filme foi premiado no Festival de Veneza. 

Em “A Queda do Império Americano” (La chute de l'empire américain), de Denys Arcand, o intelectual Pierre-Paul Daoust, de 36 anos, é forçado a trabalhar como entregador para ter uma vida decente. Um dia, no trabalho, ele se vê no meio de um assalto tragicamente frustrado: dois mortos e milhões em sacos de dinheiro deixados no chão. Pierre-Paul se vê diante de um dilema: sair de mãos vazias ou pegar o dinheiro e fugir? O novo filme do diretor de Invasões bárbaras e Declínio do império americano faz uma análise espirituosa, e comovente, da predominância do dinheiro numa sociedade em que todos os demais valores parecem ter se desintegrado.

Aos 80 anos, José Mujica, ex-presidente do Uruguai, guerrilheiro urbano e preso político, é hoje um líder global. Talvez ele seja o último revolucionário do mundo. Sua vida parece um filme, e ele escolheu o aclamado diretor sérvio Emir Kusturica para contar sua jornada de vida. Em “El Pepe, uma vida suprema” (El Pepe, una vida suprema), exibido no Festival de Veneza 2018, eles traçam um diálogo íntimo que explora o significado da existência enquanto comprometimento político e aventura poética. As filmagens começaram em 2014, durante os últimos dias de Mujica como presidente.

Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2018, “3 Faces” apresenta a viagem do diretor iraniano Jafar Panahi e da atriz Behnaz Jafari até uma região rural no Irã, na tentativa de socorrer uma jovem proibida, pela família e por autoridades, de estudar em um conservatório de teatro na capital Teerã. Os dois não demoram a descobrir que a hospitalidade local pode ser ameaçada pela vontade de proteger antigas tradições. A atitude dos habitantes locais no filme é consistente com o que ainda acontece na região. 



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