Publicado em 14/12/2019

A mostra Première Brasil: Fronteiras exibiu nesta sexta-feira (13/12/19) o documentário "Nossa bandeira jamais será vermelha", acompanhado de um debate com o diretor Pablo Lopez Guelli e mediado pelo jornalista e professor Filippo Pitanga. O longa investiga a concentração midiática no país a partir da visão de jornalistas independentes, bem como as consequências deste monopólio informacional que recaem sobre a democracia.

Filippo inicia a mesa indagando como surgiu a ideia tanto para Nossa bandeira jamais será vermelha, quanto para a montagem de costura de depoimentos. Pablo revela ter sido particularmente difícil editar um documentário de narrativa tradicional, uma vez que precisava combinar as falas de 21 entrevistados preocupando-se também com o ritmo do filme. 

mediador pergunta em seguida se o realizador buscou contactar os responsáveis pelas mídias citadas na realização do projeto. Após ter tentado (sem sucesso) entrevistas com alguns representantes de grandes veículos, o diretor compreendeu esse contato como fantasioso; afinal, coloca de forma direta a defesa de um ponto de vista nítido: a mídia brasileira é concentrada.

Sobre a viabilização do longa-metragem num contexto de perseguição à produção de cultura, Pablo Lopez afirma que o projeto "passou por muito pouco". Não havia no Brasil do século XXI, segundo o diretor, um filme sobre o assunto: "esse filme pretende ser uma colaboração para que as pessoas vejam o que a concentração de mídia pode causar na democracia de um país", coloca. 

Um espectador interroga se Pablo continua esperançoso sobre a resistência jornalística depois do filme finalizado. De um aspecto fílmico, o diretor considerou interessante encerrar o documentário com um prognóstico de esperança;pessoalmente, define o momento brasileiro atual como bom, mas dolorido; um curativo pelo qual é necessário passarmos, em seus termos.

Para Filippo, Nossa bandeira faz um importante trabalho de catalogação da mídia: então em que momento finalizar a história? Pablo Lopez observa que havia um recorte narrativo claro de 2013 a 2019, iniciado com os protestos de 2013 e encerrado com a eleição de representantes da extrema direita brasileira. Concorda que a quantidade de mulheres entrevistadas é pequena, o que justifica a partir da disponibilidade de seus próprios contatos.

Já sobre a escolha de não coletar depoimentos de políticos, afirma que "para essa história ter credibilidade, precisava ser falada por jornalistas. Como eu comentei, não existe um filme sobre a mídia brasileira, e ninguém melhor para falar sobre isso do que os jornalistas".

Do público surge uma provocação final, questionando se ao ver do diretor a imprensa perdera o controle informacional na era da comunicação via redes sociais. Pablo coloca com segurança que num panorama mundial se trata de uma batalha perdida por parte das mídias tradicionais; no Brasil, por outro lado, acredita ser o monopólio da informação mais consolidado. 

Nossa bandeira jamais será vermelha deve ser exibido no canal Cine Brasil TV em julho de 2020.




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