“Ninguém é forte fazendo um filme”

Publicado em 29/09/2013

“Há um sentimento, uma emoção anterior. Eu construo o roteiro para chegar nessa emoção”, conta Claire Denis, sentada de frente para a Baía de Guanabara, na área externa do Pavilhão da Utopia, onde passou o dia ontem. Um dos maiores nomes do cinema francês contemporâneo, Denis se anima quando instigada a falar sobre seu processo de trabalho. “É uma construção, é claro, tijolo por tijolo. Mas é para chegar naquela emoção. Se eu vejo que o roteiro está bem construído, mas sem emoção, eu paro”.

Bastardos é seu filme mais recente, que estreou em maio, na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes. “Ninguém é forte fazendo um filme”, diz ela. “Ninguém tem certeza de nada quando está filmando. Você só pode ter a esperança de que vai dar tudo certo”. Denis diz que, nesse filme, o resultado final ficou bem próximo do que esperava quando escreveu o roteiro.

O longa é a história de um homem investigando a morte de seu cunhado e o estranho caso psicótico de sua sobrinha, e toca em temas delicados de relações familiares. “Como mulher, eu sei o que significa ser uma menina”, diz Denis. “Garotas têm um corpo assustador, que precisam defender, mas que não sabem como. A família é o ninho que deve proteger. E esse universo de relações familiares estava dentro de mim há um tempo, vindo da literatura, da tragédia e mesmo das notícias de jornal”.

O filme marca ainda a primeira vez que a cineasta trabalha com a atriz Chiara Mastroianni, sua amiga de longa data. “Ela é uma mulher que não tem consciência do quão bonita e talentosa é”, diz. “Não é a coisa mais fácil ser atriz quando se é filha de Mastroianni e Deneuve. Ela precisa que se vá até ela, que seja descoberta. Quando a filmava, podia senti-la dizendo ‘me descubra’”.

Bastardos e Claire Denis poderão ser (re)descobertos hoje à noite, no Estação Rio 1, em sessão seguida de debate, às 19h.