Publicado em 12/10/2017

O longa-metragem “O Formidável” é a mais nova produção do francês Michel Hazanavicius e fará a sua estreia no Festival do Rio hoje (12) no CCLSR - Cine Odeon NET Claro às 21:30 com a presença do próprio diretor. O filme conta a história de amor entre os ícones Jean-Luc Godard e Anna Karina durante as filmagens de “A Chinesa” em 1967 um pouco antes da eclosão dos conflitos políticos de maio de 1968 em Paris.

Hazanavicius foi vencedor de cinco Oscars pelo filme “O Artista”, incluindo os prêmios de melhor diretor e de melhor filme, e trabalha em “O Formidável” com jovens atores consagrados como o francês Louis Garrel (de “Os Sonhadores”), que interpreta Godard,  e a franco-americana Stacy Martin (de “A Ninfomaníaca”) no papel de Anna Karina.

O diretor franco-suíço Jean-Luc Godard é um ícone inquestionável da história do cinema. Sendo um dos fundadores do movimento cinematográfico francês Nouvelle Vague ao lado de François Truffaut e de outros grandes nomes, Godard tem uma obra que se divide entre seguidores apaixonados e detratores que não se entendem com a sua fase mais política a partir do final da década de 1960.

Poucos anos antes de dar uma guinada revolucionária em sua carreira, Godard se apaixonou e se casou com a atriz Anna Karina, que se transformou em uma musa onipresente em suas produções por alguns anos. Anna construiu uma carreira sólida e é um dos nomes mais importantes da cinematografia francesa, alcançando também o status de diva por suas interpretações magistrais e por sua sensualidade incomum que ainda hoje arrebata as novas gerações.

Em uma entrevista Michel Hazanavicius falou sobre a importância de Godard e Anna Karina em sua vida e sobre a produção de “O Formidável”.

Você havia afirmado em uma conferência que o filme não é uma adoração a Godard. Por que você afirma isso?

Porque o filme não é uma apologia ao Godard. Ele é uma figura muito controversa e paradoxal. Algumas pessoas o amam, outras o odeiam. Ele se posiciona politicamente e não é só um artista, é muito mais do que isso. Quando digo que não é uma apologia quero dizer que nem tudo é grandioso na vida dele. Tentei fazer algo mais equilibrado e paradoxal como eu penso que ele é.

E o que tanto Anna Karina quanto Jean-Luc Godard representam para você?

Anna Karina é uma pessoa cheia de charme. Ela é realmente charmosa e eu a amo como atriz. E quando a gente fala de Godard se fala de Anna Karina. Ela traz aos filmes algo de sedução e luz. Eu realmente a admiro. E a minha maior preocupação em fazer um filme sobre Jean-Luc Godard era ter a Anna Karina nele.

E sobre Godard acho que ele é amplo, não pensa em apenas uma coisa. É um artista muito importante porque são poucos os diretores que você pode dizer que de fato mudou a regra do jogo. E não existem muitos diretores como ele. Eu amo a primeira década de seus trabalhos, principalmente a primeira metade dos anos de 1960. Depois desse período eu acho um pouco chato. Não acho que como um pensador político ele tenha as suas melhores habilidades, mesmo observando que ele tente ser bastante político. Mas Godard é um grande criador de imagens e formas.

E como foi realizar este trabalho com o Louis Garrel e com a Stacy Martin?

Os dois são realmente muito bons atores. Eu tive que convencer o Louis Garrel porque ele achou que o projeto era um pouco assustador. Eu sabia que ele queria trabalhar comigo e ficou feliz em trabalharmos juntos. No início ele ficou preocupado, mas eu expliquei que eu queria fazer uma comédia e ele percebeu o tipo de filme que poderia ser. No início nós não podíamos entender o porquê ou como poderíamos contar essa história. E quando ele leu o roteiro descobriu momentos da vida de Jean-Luc Godard que ele não conhecia, e finalmente aceitou fazer.

Com a Stacy Martin foi bem mais fácil. Ela é uma atriz maravilhosa e também traz muito charme ao filme. Ela trouxe muitas coisas interessantes para essa história de amor. Eu acho que tem muita coisa dela que nos faz querer que o casal sobreviva e dê certo nessa história. E a gente se sente muito mal no final.

Você concorda com a afirmação de alguns críticos e jornais de que Godard é um artista incompreendido e incompreensível?

Eu não diria incompreendido. Acho que ele conscientemente decidiu abandonar o cinema tradicional, e com isso, é óbvio, perdeu uma boa parte do seu público. Eu tenho uma relação bem clássica com os filmes dele, então posso afirmar isso. Os filmes dos anos de 1960 são muito sedutores e fáceis de amar. Quando a gente assiste a Anna Karina e Jean Paul Belmondo é muito prazeroso. Mas a partir de 1968 ou 1969 as suas produções começam a ficar muito difíceis. Não são fáceis de se gostar. Você praticamente não consegue pensar “Essa noite eu vou assistir a esse filme com a minha mulher e os meus filhos”. Não é esse tipo de filme. A questão não é ser compreendido ou incompreendido, mas sim o que ele quer fazer e que tipo de espectador ele quer atingir. Com certeza não será um grande público. É claro que muita gente se sentiu traída ou perdida, mas foi isso o que ele quis fazer.

Texto: Fernando Flack

Foto: Jackie Durans



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