Publicado em 09/10/2015

O CCJF sediou a exibição de Ralé, novo filme da diretora Helena Ignez, na tarde de ontem (quinta, 8). Narrado da maneira não convencional herdada do Cinema Marginal dos anos 1970, o longa é livremente inspirado na peça homônima de Máximo Gorki e traz personagens excêntricos participando da gravação de um filme no meio da Floresta Amazônica, embebidos em arte e gravitando em torno da imponente figura de Barão (Ney Matogrosso).

Após a sessão, Ignez falou brevemente sobre Ralé e sua carreira, com mediação do professor de cinema da PUC Sergio Mota, que iniciou a conversa perguntando a ela o porquê de ter demorado tanto para começar sua carreira como diretora, o que fez com 66 anos. Ignez respondeu de maneira simples e direta: “Não me interessei a dirigir um filme até começar a me interessar”.

Mota traçou uma comparação entre o novo trabalho e um dos filmes anteriores da cineasta, Canção de Baal, no que diz respeito à força das personagens femininas. Ignez explicou que em Canção de Baal as mulheres são vítimas conscientes e subservientes do machismo, reflexo da misoginia de Brecht, autor que o filme toma como inspiração. Já em Ralé, as mulheres se autodeclaram livres e vadias.

Segundo ela, além da inspiração no jornalismo gonzo, há no longa uma preocupação em aplicar uma lógica aristotélica de clareza absoluta à peça de Gorki, composta por cenas incoerentes. Esse esforço levou a várias reescritas do roteiro durante três anos.

Sobre dirigir Ney Matogrosso, Ignez não poupou elogios ao músico, dizendo que ele traz às cenas em que canta uma voz fortíssima e um erotismo material, que a levaram a testemunhar diversos espectadores de Ralé sendo incapazes de conterem arroubos de dança nesses momentos.

Texto: Vinícius Spanghero

Fotos: Carolina la Cerda




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