Publicado em 15/10/2016

Na mostra Retratos Falados de ontem (sexta-feira, 14 de outubro), o Centro Cultural Banco do Brasil exibiu o documentário Holocausto brasileiro, dos diretores Daniela Arbex e Armando Mendz. Baseado no livro homônimo de Arbex, jornalista e defensora dos direitos humanos, o longa-metragem trata da desumanização e das violações sofridas pelos pacientes psiquiátricos do Hospital Colônia de Barbacena ao longo de cinquenta anos. A respeito de sua ampla e árdua pesquisa, buscando registros fotográficos e entrevistas com os envolvidos, a autora e diretora afirmou ter se guiado pelo objetivo principal de dar voz aos socialmente mudos.

O filme impactou e comoveu todos os presentes na sessão. Já no início do debate, um espectador compartilhou a história de sua mãe, que foi internada pelo pai em Barbacena em 1943. Segundo a diretora, não há nenhuma exibição do documentário em que alguém não se levante e relate um caso particular de familiares internados. “É incrível como o Hospital Colônia atravessou a vida de tantas pessoas”, acrescentou.

O filho de Zé Carlos, um dos personagens entrevistados, comentou acerca da exposição, na obra, de ambos os pontos de vista: o dos pacientes e o da instituição psiquiátrica. Prosseguiu falando da fragilidade dos direitos humanos e do ato falho cometido pelo profissional de relações públicas do Hospital Colônia, que em dado momento do filme se refere aos pacientes como detentos. Em sua resposta, a diretora afirmou que, embora entenda a cultura e as limitações da época, há elementos incompreensíveis e inaceitáveis, como as mortes decorridas da fome e do frio. “Ninguém morre de loucura, mas sim de maus-tratos”, completou o também diretor Armando Mendz.

Quanto ao processo de filmagem, o produtor Alessandro Arbex afirmou que foi uma experiência difícil para a equipe. Segundo Mendz, a produção do documentário, por abordar um assunto muito forte, se deu respeitando e procurando incorporar as perspectivas das pessoas envolvidas. “Utilizamos a casa de um morador local para uma das cenas, e ele não nos deixava filmar. A solução foi incluí-lo no desenvolvimento do filme, convidá-lo a assistir à cena. Cinema requer silêncio e agilidade, mas é preciso envolver cada indivíduo”.

Essa necessidade de incluir o outro, em oposição à segregação típica das políticas higienistas, foi um ponto muito marcado pela equipe de Holocausto brasileiro. “O que nós não vemos não nos incomoda. Mas nosso filme se dispõe a mostrar precisamente aquilo que fazemos às escondidas e que não devemos fazer”, enfatizou a diretora. Quando questionada sobre a responsabilidade da sociedade para com as vítimas do Hospital Colônia, assim como as de tantas outras instituições psiquiátricas, Arbex afirmou que a dívida histórica é impagável, uma vez que nada pode minimizar a dor dos pacientes e de suas famílias. Não obstante, o assunto deve ser discutido e nunca esquecido. “É importante estar sempre atento, para que essa situação jamais se repita”, concluiu Mendz.

Texto: Paula Lacerda

Fotos: Pedro Ramalho




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