Publicado em 11/10/2016


Por: Dominique Valansi

O território de interseção entre as artes visuais e o cinema foi o fio condutor da noite em que o artista Tunga foi homenageado no Festival do Rio 2016. Na sessão, realizada na noite de 10 de outubro, no Estação NET Botafogo, foram exibidos registros de performances em Inhotim, um documentário sobre o artista assinado por Murilo Salles, um projeto de vídeo arte em parceria com Eryk Rocha e o trabalho “Cooking”, que teve a produção de Lula Buarque de Holanda.

No platéia, grandes nomes das artes visuais e do cinema lembravam de Tunga e celebravam sua obra. Estavam presentes: os artistas Franklin Pedroso, Elizabeth Jobim, Gabriela Machado, Ana Luiza Fay, Enrica Bernardelli, Andrea Brown, as galeristas Paola Calacurcio e Marcia Barrozo do Amaral, além dos cineastas José Jofilly e Walter Carvalho.

“O Tunga é um artista definitivo na cultura, nas artes plásticas brasileira. É um perda irreparável, uma pessoa encantadora, um amigo, intelectual, um homem que tinha uma visão das coisas. Só elogios que eu posso dar. Agora, passar esses filmes no Festival do Rio, só vem comprovar uma coisa mais importante que é a realização deste festival. Como foco de resistência, de concentração, de convergência de ideias novas. É uma coisa impressionante. Mesmo com as dificuldades, e ainda mais este ano que estamos vivendo em um país esquisito, eu acho que fazer uma retrospectiva dos filmes do Tunga no Festival é uma dádiva. Eu fico muito feliz. E eu não tinha tempo, mas abri uma brecha no trabalho para vir aqui, lembrar dele. Para comungar com ele, rever todos os amigos que estão aqui presentes para rever a figura do Tunga. Mas o que eu queria realmente frisar é a ideia de passar esses filmes no Festival do Rio. Isso é fantástico. No momento que está todo mundo querendo ir ao cinema, passa a obra de Tunga é maravilhoso!”, afirmou Walter Carvalho.

Clara Gerchman, filha do pintor Rubens Gerchman que recentemente começou a fazer a gestão do acervo do Tunga junto com a família do artista, também falou sobre a sessão. “Vai ser emocionante. Não sei se eu estou preparada! Porque a imagem em movimento é muito diferente. Você olhar só a foto estática é uma coisa. Ouvir a voz, ver, é outra experiência”.

“Eu acho que é um momento muito especial, muito emocionante para rever a obra dele, e não dava pra não vir. Não deixa de ser uma homenagem”, contou a artista visual Gabriela Machado.

Curador da mostra Artistas Viajantes do Festival do Rio, Marc Pottier também destacou a importância da sessão. “Este ano tivemos a tristeza enorme de perder Tunga. Esta é sem dúvida, uma oportunidade de mostrar que ele é mais do que artes visuais. Através dos filmes, o público vai descobrir muitos ângulos da riqueza, da imaginação do Tunga. Porque ele foi mais do que um artista visual, mais do que uma pessoa do mundo do cinema, mais do que um filósofo. Ele era tudo isso junto. Acho que os filmes que vamos mostrar hoje vão trazer a diversidade do pensamento do Tunga. Ele era um poeta e um filósofo. É o que vamos ver hoje”.

Tunga nasceu em 1952 em Palmares, Pernambuco. Se formou em Arquitetura pela Universidade Santa Úrsula em 1974 e no mesmo ano, realizou uma individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Nos anos 1970, fundou, ao lado de Cildo Meireles, Waltercio Caldas e José Resende, a revista Malasartes e o jornal A Parte do Fogo, ambos de curta duração. 

A propósito da sua poética, Tunga afirmava seu interesse em redefinir a escultura não como volume estático, mas como organização de formas em expansão. Além de instalações, desenhos e esculturas, o artista realizava performances e happenings. O artista tem dois pavilhões dedicados à sua obra no Instituto Inhotim (Brumadinho, Brasil), o mais recente deles inaugurado em 2012. Ele faleceu em junho de 2016.




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