Gênios que já se foram lembrados no Cine Encontro Os filmes (O vento lá fora) e Para sempre teu Caio F., ambos da mostra Retratos, foram debatidos ontem no encerramento do Cine Encontro 2014
O bate-papo começou com Candé Salles, diretor de Para sempre teu Caio F. Ele contou que a ideia do longa-metragem foi da roteirista Paula Dip, que era amiga de Caio Fernando Abreu e já havia escrito o livro homônimo, baseado nas cartas enviadas a ela pelo escritor. Salles explicou que este é seu primeiro filme como diretor e revelou o quanto foi desafiador fazer uma obra cujo desfecho o público já conhece de antemão.
A plateia se mostrou surpresa com a semelhança entre Caio e Glauco Caruso, o ator que interpreta o escritor. A equipe parabenizou o ator, que se interessou por cada detalhe dos trejeitos de Caio e topou o desafio de emagrecer e raspar o cabelo. Curiosamente, Caruso estava na plateia e as pessoas não o notaram, porque, como ponderou Paula Dip, “ele não é nada parecido com Caio, apenas se transformou para o filme”.
A roteirista se emocionou ao dizer que, durante toda a produção, evocava Caio. Ela disse sentir que ele estava ali de alguma forma, o que era mágico.
O diretor não considera ter feito um documentário chapa branca. Ele sublinhou o fato de que, em nenhum momento, a realidade foi escondida. Desde o começo o final triste estava bem resolvido, afinal, é a verdade. “A morte tem que ser dita, é inevitável”, colocou. Ao mesmo tempo, o humor de Caio Fernando Abreu foi incorporado no roteiro e ajudou a amenizar o peso da trama. Dip lembra como o amigo era sempre bem-humorado e solidário. “A coragem de Caio em viver nos deu coragem para fazer o filme”, declarou.
A amiga do escritor contou também que a promessa entre eles era que quem morresse primeiro deveria ser homenageado pelo outro. “Caio já dizia que seria mais famoso depois de morto”, lembrou ela.
Iniciando a discussão sobre o filme (O vento lá fora), o diretor Marcio Debellian contou que o projeto foi criado por Maria Bethânia. A cantora havia feito uma leitura com a professora Cleonice Berardinelli das poesias de Fernando Pessoa, e teve vontade de registrar o processo. Assim, elas deram liberdade para o diretor fazer o que quisesse. A única exigência de Bêthania era manter a dinâmica professora-aluna estabelecida entre elas.
O diretor pontuou a individualidade de ambas na obra. Maria Bethânia é cantora, vive no palco e, por isso, sempre faz tudo de forma bastante grandiosa. Cleonice Berardinelli, por sua vez, é professora, viveu na sala de aula e, dessa forma, movimenta-se de forma mais contida.
Debellian confessou que a química entre as duas já estava pronta: ele só precisava captá-la de forma discreta, porém autoral. Ele queria fazer com que a câmera desaparecesse para manter a naturalidade. Para o cineasta, o preto e branco da fotografia faz referência à música clássica e, ao mesmo tempo, ao cinema mudo.
O mediador observou que os filmes mostram personalidades que, mesmo se desconhecidas pelo espectador, fazem com que ele assista, interaja e se emocione. Mota, no entanto, apressou-se em corrigir: “Acho impossível que alguém não conheça esses dois gênios”, concluiu.
Texto: Juliana Rosa e Julia Asenjo
Foto: Juliana Rosa
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