Publicado em 07/10/2015

Nessa terça-feira (6 de outubro) o Estação NET Ipanema recebeu, em sessão dupla, as estreias mundiais de LEVANTE! e A marcha dos elefantes brancos, dois documentários da mostra Fronteiras que abordam, de maneiras diferentes, mas repletas de paralelos, a conflituosa relação entre os protestos populares e a democracia nos últimos anos - e o papel da mídia nesse contexto. Após a exibição, o Cine Encontro contou com a presença de produtores e personagens do segundo filme para uma conversa séria, mas descontraída.

O jornalista Patrick Granja, um dos personagens, iniciou o debate destacando a importância do filme por mostrar aquilo que está por trás da miséria do povo: não apenas os políticos, mas também os empresários que os controlam. Granja lembrou ainda que a violência policial vista nos protestos de 2013 não se equipara ao que acontece nas favelas, longe dos olhos e da consciência da classe média, e que esses protestos foram causados não apenas pelos exorbitantes gastos com as obras da Copa do Mundo de 2014, mas também por uma insatisfação de raízes muito mais profundas. “A Copa é só a ponta do iceberg”, declarou.

A plateia ressaltou a importância que o documentário assume às vésperas das Olimpíadas de 2016, momento em que a história de monumentais gastos públicos que não se revertem em benefícios para a população parece estar se repetindo. Os produtores Laura Colucci e Neil Brandt concordaram com a necessidade de alcançar o maior público possível, e mostraram-se abertos a exibir seu filme em cineclubes, universidades, comunidades, e até mesmo disponibilizá-lo online num futuro próximo.

Brandt também fez perguntas à plateia, interessado em saber como o público nacional se sentiu vendo o documentário, que é uma coprodução entre Brasil e África do Sul. Entre as respostas, talvez a mais interessante tenha sido um questionamento sobre a nossa democracia - seria um país que não ouve nem representa seu povo verdadeiramente democrático? A mediadora e curadora da mostra Fronteiras, Vik Birkbeck, respondeu com uma outra pergunta: “Será que existe algum país realmente democrático? O que é, de fato, democracia?”.

A questão deu a Granja a oportunidade de comentar sobre as tecnologias de repressão utilizadas tanto pela mídia quanto pela polícia, e sobre a importância do mídia-ativismo na resistência a essa repressão. O jornalista lembrou que esse ativismo é muito anterior ao boom de 2013, estando presente tanto nas lutas contra a ditadura militar quanto nos movimentos operários anarquistas, mas tendo sido enormemente potencializado pelas novas tecnologias e mídias sociais.

O satirista Rafael Rafucko Puetter, outro personagem do filme, concluiu a conversa comparando os protestos de 2013 com os de 2014, apontando os diferentes tratamentos que a mídia mainstream teria dado a cada um deles, e confessando certa desilusão com os movimentos de mídia alternativa de 2013. O futuro do mídia-ativismo, disse ele, é individual - ao se tornar coletivo, ele se transformaria inevitavelmente naquilo que busca combater. “Não odeie a mídia; seja ela”, concluiu.

Para os que perderam a sessão, uma dica: na próxima sexta-feira, dia 9 de outubro, tanto a exibição quanto o debate vão acontecer de novo, no Centro Cultural Justiça Federal, às 19h.

Texto: Clara Ferrer

Fotos: Nathália Benjamin




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