Publicado em 23/09/2024

Marco Pigossi no filme Maré Alta (High Tide), de Marco CalvaniMarco Pigossi no filme Maré Alta (High Tide), de Marco Calvani

Por Rodrigo Torres

Um filme internacional com toque brasileiro é o mais novo confirmado na programação do 26º Festival do Rio: o longa-metragem Maré Alta (High Tide), produção estadunidense dirigida pelo italiano Marco Calvani e estrelada pelo seu companheiro, o ator paulistano Marco Pigossi. Inédito no Brasil, o filme estará na mostra Expectativa do Festival do Rio 2024, que acontece entre os próximos dias 3 e 13 de outubro.

Coestrelado pela premiada atriz Marisa Tomei, Maré Alta é um drama intimista que gira em torno de Lourenço, um imigrante brasileiro que se muda para Provincetown, nos Estados Unidos, em busca de novas oportunidades e autoconhecimento. Ao longo do filme, ele enfrenta os desafios de viver em um novo país, lidar com suas próprias questões internas e encontrar seu lugar no mundo.

Em entrevista exclusiva, o ator Marco Pigossi falou sobre as similaridades entre a história de Lourenço e a sua própria trajetória. "Existe um paralelo. Ele vai para os Estados Unidos cheio de sonhos e projetos, e eu, como ator, saí do Brasil para explorar novos territórios", afirma Pigossi, destacando a importância da base sólida que havia construído em nosso país antes de emigrar.

Marco Pigossi no filme Maré Alta (High Tide), de Marco CalvaniMarco Pigossi no filme Maré Alta (High Tide), de Marco Calvani

"Foi um recomeço de carreira para mim, mas um recomeço mais maduro. Agora, posso priorizar os meus projetos, meu interesse em fazer cinema, contar as minhas histórias como pessoa e artista… A maturidade me permite analisar melhor os meus passos, os meus projetos, os meus desafios, e isso tem sido maravilhoso.”

Consolidado no mercado brasileiro após muitos trabalhos na TV Globo e no cinema nacional, Pigossi precisou se adaptar a um novo mercado em que ninguém o conhecia. Mas isso vem mudando. Após exibições em festivais nos EUA, Maré Alta foi avaliado por veículos internacionais de prestígio — como Variety, Indiewire e The Hollywood Reporter — e soma 100% de aprovação no Rotten Tomatoes. O principal elogiado em todos esses textos é justamente o ator Marco Pigossi.

“A gente sempre espera que um projeto nosso tenha sucesso, mas eu realmente não tinha ideia de que críticos e canais tão importantes iriam falar tão bem do meu trabalho e reconhecer o meu talento, foi uma alegria muito grande. Quando eu li todas as críticas e vi que falavam majoritariamente da minha atuação, foi um choque”, ele conta, revelando que já foi indicado a premiação no circuito de cinema independente internacional.

O diretor Marco Calvani no set de High Tide
O diretor Marco Calvani no set de Maré Alta (High Tide)

Marco colhe os frutos de um processo de construção de personagem minucioso, que durou dois anos e envolveu processos de descoberta de si mesmo: "Eu me identifico com o Lourenço de várias maneiras, né? Eu acho que isso também faz parte do meu processo de autoaceitação, de me entender como um homem gay, de me entender como um corpo gay no mundo... O Lourenço parte para os Estados Unidos em busca disso. Eu vim por outras questões, mas eu também passei por isso, né?".

A atmosfera intimista de Maré Alta é, portanto, reflexo de um projeto muito íntimo. Para Marco Pigossi, foi "uma sorte muito grande" trabalhar no roteiro, no personagem e na produção do longa-metragem ao lado do seu marido, Marco Calvani: "Esse é nosso primeiro projeto juntos, e foi como colocar um filho no mundo. Nosso processo foi construído com base na confiança mútua. O Marco me limpou como ator, tirando meus vícios antigos e trazendo novas perspectivas. Foi um set repleto de amor e respeito", lembra Pigossi, emocionado.

Marisa Tomei no filme High TideMarisa Tomei no filme Maré Alta (High Tide), de Marco Calvani

Outro motivo de satisfação pessoal e profissional foi trabalhar com Marisa Tomei. Ele explicou por que a atriz, vencedora do Oscar pelo filme Meu Primo Vinny (1992), foi a melhor com quem ele já trabalhou na carreira. “Ela não repete um take jamais! Ela sempre traz uma coisa nova para a cena e isso deixa a gente vivo, atento. Eu pensava: ‘O que será que ela vai trazer de novo? Como eu vou reagir?’ Ela traz essa vivacidade. Ela usa o que está acontecendo no momento e traz para a cena. Isso foi uma grande lição para mim”, diz Marco, destacando que seu processo na televisão era diferente — muito mais limitado.

Marco Pigossi menciona também a troca artística que teve com Bill Irwin. Na trama, eles têm uma relação de pai e filho, e essa interação se refletiu na tela graças ao ambiente de generosidade criado pelo ator veterano. “Ele tem uma trajetória na Broadway gigantesca e é um cara extremamente talentoso e gentil. Como o relacionamento do Scott com o Lourenço é bem paternal, o Bill trouxe esse carinho de bandeja para mim. Foi um prazer enorme”, diz Marco.

Bill Irwin e Marco Pigossi no filme Maré Alta (High Tide), de Marco Calvani

Toda essa experiência serve ao objetivo maior de Marco Pigossi em sua carreira: contar histórias que o transformem, com as quais possa aprender, que o toquem “como ser humano e artista”. Por isso, contar a história de Lourenço, um imigrante “em busca de amor e respeito” nos Estados Unidos, carrega uma mensagem importante para o ator. Num âmbito maior, ele afirma que esse projeto pode ter peso em termos de representatividade brasileira e latino-americana no cinema estadunidense. 

“Existe uma dificuldade de o mercado americano ver o Brasil como latino. O próprio latino tem essa dificuldade, pois realmente: são culturas diferentes, e o Brasil é um quase um continente por si só. Mas a gente está dentro da América Latina. E eu acho que ainda são poucas as produções ou os estúdios que veem o Brasil como um país latino. É cada vez mais importante trazer essa representatividade para a conversa”, reflete o ator.

Maré Alta é apenas um capítulo, inicial, na trajetória promissora de Marco Pigossi no cinema internacional. Confira esse trabalho fundamental de sua nova carreira — seu “recomeço” como ator e produtor — e outras obras inspiradas de grandes artistas, no 26º Festival do Rio, de 3 a 13 de outubro de 2024.

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