Publicado em 16/10/2022

O primeiro debate do último dia de Première Brasil foi em torno do longa-metragem Exu e o Universo, cuja sessão lotou o Cine Odeon na manhã de sábado (15). A professora Denise Lopes mediou a conversa, que teve como participantes o diretor Thiago Zanato, o produtor e corroteirista Nasi, o fotógrafo Marco Antonio Ferreira e Julio Cezar de Andrade – o Baba Julio –, que participa do filme.

Marco celebrou o fato da exibição ocorrer no dia dos professores e Nasi se disse muito feliz com o resultado, pois a obra é muito importante por povo de axé. Thiago, o diretor, explicou que assumiu principalmente o papel de viabilizar uma história cujos elementos já existiam. Ele descreve o projeto, que nasceu de ideia do professor Bàbá King, como bastante coletivo e de comunidade.

Julio Cezar afirmou que o filme é uma reparação histórica diante de uma sociedade que reproduz o racismo estrutural e institucional, e dá a resposta por meio da arte, da originalidade, da estética, de valores ancestrais e históricos do ethos do povo africano, que vem sendo preservado no Brasil pelas casas de axé, de geração em geração.

“E não tem como não falar do Bàbá King e suas pesquisas, que, nos últimos trinta anos, vêm sistematizando uma sabedoria ancestral, milenar, dos povos tradicionais iorubá”, ele completou, avaliando que o filme mostra que, frente à opressão, existe a resistência, a ressignificação e o processo de reconstrução do povo preto. Ressaltando que povos tradicionais não são exóticos, ele destacou ainda a materialização do projeto decolonial a partir do culto a Exu por pessoas não negras.

Nasi contou que Exu e o Universo surgiu com a proposta de lançar luz sobre o orixá caluniado e demonizado, que é também o mais importante. Ele e o fotógrafo começaram a filmar sem roteiro ou diretor, seguindo a intuição. Thiago – que não é de orixá – entrou em 2017, contribuindo com sua visão de fora. Foi na construção que eles entenderam que estavam fazendo um filme contra o racismo religioso. O diretor comentou que Bàbá King foi essencial nas gravações na Nigéria, pois indicava o que deveria ser filmado, e citou como referência o documentário Ôrí (1989), de Raquel Gerber.

Marco Antonio Ferreira, que assina a fotografia, disse que o processo de registrar essa cultura foi delicado, envolto em muitos testes e sentimentos. De acordo com ele, o acolhimento e a identificação sentidos na ida à Nigéria foram mágicos e importantes para a conexão que se deu com muito respeito e carinho. Julio, que afirmou já estar cobrando um segundo filme, destacou que os participantes do longa são personagens da vida real, que não tinham roteiro com falas escritas: “A gente trouxe a sabedoria ancestral e o conhecimento que a gente tem da vivência”.

Por fim, após depoimento forte de Joana Claude, codiretora do curta-metragem Último Domingo, exibido na abertura da sessão, Marco declarou que ser preto no audiovisual é resistência e o filme é um retrato disso também. Todos se despediram cantando para Exu.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz



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