Em Comeback, a periferia é um faroeste O primeiro longa-metragem de Erico Rassi usa referências do western para contar uma história sobre orgulho e ostracismo ao som do bolero
Diante da timidez inicial do público, o diretor Erico Rassi assumiu a palavra para falar sobre as origens da sua obra, revelando que o filme, que concorre ao Troféu Redentor deste ano, surgiu a partir de duas histórias que desejava contar: a do grande e esquecido jogador de sinuca Carne Frita e a de um pistoleiro. Fundindo as duas ideias, Rassi chegou ao seu longa-metragem, que acompanha as angústias, as humilhações e os sonhos de Amador (Nelson Xavier), um ex-pistoleiro aposentado e relegado ao ostracismo.
Começando a se animar, a plateia perguntou sobre o impactante visual do filme, que o diretor de fotografia André Carvalheira explicou ser uma soma das referências noir e western, que guiaram a equipe ao longo do desenvolvimento do projeto, com as imposições dadas pela precariedade e decadência das locações escolhidas, na periferia de Anápolis (GO), cidade natal do diretor. Rassi, por sua vez, reiterou que usar a fotografia para reforçar essa atmosfera de decadência da periferia era um desejo consciente de sua parte, e o ator Nelson Xavier contou que foi justamente esse aspecto do projeto que o atraiu. Segundo Xavier, a fragilidade do orgulho de seu personagem, a sua busca por grandiosidade e o seu código de valores ultrapassado, são um símbolo da periferia e de um país periférico.Abbade aproveitou então para perguntar a Marcos de Andrade, responsável por dar vida ao personagem que acompanha o pistoleiro ao longo da história, como foi contracenar com Xavier. Ele revelou que foi o primeiro a ser contratado, mas que a chegada do ator veterano foi crucial para dar o tom do filme.
A entrosada equipe começou a discutir então questões técnicas da obra. O montador Leopoldo Joe Nakata explicou que seu trabalho foi guiado pelo respeito ao universo muito inusitado e particular de Comeback, e que, para ele, valorizar esse universo era mais importante até do que seguir o roteiro. Gustavo Garbato, responsável pela trilha sonora, contou detalhes sobre a busca por criar ritmo, movimento e todo um universo brega através da sonoridade do filme, revelando que muitas das referências vieram do próprio diretor, que fez uma extensa pesquisa a respeito do bolero. A diretora de arte Carol Tanajura ofereceu detalhes sobre o processo de composição do álbum de recortes que Amador carrega sempre consigo e que funciona como uma espécie de síntese da premissa da obra, um objeto “envelhecido, impregnado pela poeira e pelo tempo”.A produtora Cris Miotto, por sua vez, falou sobre como o casamento de dezessete anos com Rassi possibilitou uma relação de completa confiança e compreensão entre a produção e a direção, e que esse clima de cumplicidade acabou se espalhando por toda a equipe. Para ela, a prioridade foi impedir que o baixo orçamento do filme criasse obstáculos ao desenvolvimento de todos os talentos nele presentes. Reiterando a fala de Miotto, Xavier se derramou em elogios à obra: “Poucas pessoas poderiam ter feito um primeiro filme como esse”, proclamou o ator, emocionado.
Texto: Clara Ferrer
Fotos: Jonathan Menezes
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