Publicado em 13/10/2022

O segundo debate da Première Brasil desta quarta-feira (12) foi em torno do documentário Diálogos com Ruth de Souza, de Juliana Vicente. O jornalista e crítico de cinema Luiz Carlos Merten mediou o papo entre o público, a realizadora e integrantes da equipe.

Sobre a origem do projeto, Juliana disse que a atriz Dani Ornellas, com quem fez o curta-metragem Cores e Botas (2010), lhe disse, em 2008, que ela precisava conhecer Ruth de Souza. A cineasta tinha uma imagem preconcebida da atriz, mas ao encontrá-la pela primeira vez, em 2009, viu uma pessoa vivendo um momento bem particular, que não se sentia uma diva.

Juliana filmou Ruth por seis anos sem saber para o que exatamente e sem financiamento – o dinheiro só surgiu a partir do aquecimento do debate racial no país, em 2015. Diálogos com Ruth de Souza nasceu quando ela levou a câmera pela primeira vez, mas foram necessários dez anos para que a diretora entendesse que filme era possível fazer sobre a atriz.

A cineasta falou bastante sobre a dificuldade do processo e disse que, tentando quebrar a barreira da narrativa posta em primeira pessoa, descobriu a música “Yaya Zumba”, que tem gravação de Virginia Rodrigues com participação da própria Ruth e inclui o verso “para ser lama é preciso ser lume”. “Aí veio esse primeiro sentimento que o nosso diálogo tava acontecendo há muito tempo, que ele era ancestral [...] e esse encontro era necessário. E aí era uma busca de como materializar aquilo...”, explicou Juliana.

Uma passagem emocionante da conversa foi quando a realizadora contou que Ruth participaria de sequências ficcionais do longa, mas foi internada dias antes do início das gravações. Mesmo no hospital, ela repetia a pergunta “Tem material pra montar?”, dizendo aos médicos que precisava sair, pois nunca havia falhado nenhum contrato e não seria no seu filme que faria isso. Segundo Juliana, as cenas teriam diálogos, mas o silêncio se impôs com seu falecimento. “A gente pensou ‘O que ela faria? Filmar, óbvio!’, então continuamos filmando [mesmo arrasados]”, ela lembrou.

Iyá Wanda d'Omolú, que atua no longa, disse que se emocionou bastante com o filme, porque “[Ruth] aponta nossa trajetória de vida enquanto preto nesse país”. Wanda destacou como as dificuldades nunca paralisaram a estrela, mencionada como inspiração de autoestima por Jhenyfer Lauren, integrante mais jovem do elenco.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz


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