Publicado em 11/08/2024


Viggo Mortensen interpreta pai idealista em Capitão Fantástico, drama dirigido por Matt Ross que fez parte da programação do Festival do Rio em 2016 — Foto: divulgação/Universal Pictures

Por João Vitor Figueira

Uma data comemorativa como o Dia dos Pais, lembrada neste domingo, 11 de agosto, oferece uma boa oportunidade para celebrar em família e também refletir sobre a paternidade, discutindo novos modos de exercer essa função de maneira ativa, responsável e afetuosa.

O cinema está repleto de obras que abordam o assunto da paternidade, seja com histórias que celebram figuras paternas positivas, seja com filmes sobre as nuances e contradições das relações familiares e com produções que desafiam estereótipos e ajudam a repensar noções preconcebidas sobre o que é ser pai.

Para marcar a data, reunimos 15 filmes que trazem diferentes representações da temática da paternidade que já integraram a programação do Festival do Rio. A lista, plural, traz filmes para diferentes paladares cinéfilos, com comédias solares que evocam os melhores sentimentos familiares, dramas emocionantes, documentários e um filme de ação.

Confira a seleção de filmes a seguir:


Foto: divulgação/Universal Pictures

Capitão Fantástico explora as complexidades da paternidade pelo prisma de uma família que desafia as convenções sociais com seu estilo de vida anticapitalista. A comédia dramática dirigida por Matt Ross traz Viggo Mortensen no papel do protagonista Ben Cash, um homem que cria seus seis filhos no meio da floresta, estimulando o estudo de filosofia, a oposição às tecnologias modernas e uma rotina atlética.

O filme aponta para os desafios que envolvem educar os filhos e os dilemas que surgem quando eles desejam trilhar seus próprios caminhos. Por seu trabalho neste longa-metragem, Mortensen recebeu a segunda das três indicações ao Oscar de melhor ator que acumula em sua carreira. Capitão Fantástico também foi exibido na mostra Un Certain Regard em Cannes e em Sundance.

Onde assistir: Disney +, Telecine


Foto: divulgação/Embaúba Filmes

Um dos grandes destaques da Première Brasil no ano passado, a comédia dramática com toques de fantasia Estranho Caminho rendeu ao cineasta Guto Parente o Troféu Redentor de Melhor Roteiro e ao ator Carlos Francisco o prêmio de Melhor Ator no Festival do Rio 2023. 

Unindo elementos de drama com fantasia e toques de humor, a trama se passa na cidade de Fortaleza, quando um jovem cineasta, interpretado por Lucas Limeira, se vê obrigado a passar um tempo isolado com o pai (Francisco), que não via há mais de 10 anos, no início da pandemia de COVID-19. Após um primeiro contato frustrante para o jovem, eventos extraordinários começam a invadir a rotina do rapaz durante o lockdown.

Onde assistir: o filme entrou em cartaz nos cinemas no dia 1º de agosto
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Foto: divulgação/Vitrine Filmes

O retrato da paternidade em Você Não Estava Aqui traz as tintas do cinema político e do neorrealismo social que são marcas da filmografia de Ken Loach. 

Neste drama dirigido pelo cineasta britânico e roteirizado por Paul Laverty, parceiro recorrente do diretor, uma família da classe trabalhadora do Reino Unido lida com a insegurança financeira e com os efeitos que isso têm nos vínculos entre eles. O pai, Ricky Turner (Kris Hitchen), tenta sustentar sua família trabalhando como entregador autônomo, mas sua rotina exaustiva acaba fazendo com que ele tenha de sacrificar o tempo com seus filhos, sufocado entre as exigências do trabalho e o desejo de ser um bom pai e marido.

O filme disputou a Palma de Ouro em Cannes, em 2019, e foi indicado ao BAFTA Awards na categoria melhor filme britânico.

Onde assistir: MUBI

  • Papai é Pop, de Caíto Ortiz (Première Brasil: Hors Concours, Festival do Rio 2021)


Foto: divulgação/Diamond Films

Livremente inspirado no livro de mesmo nome de Marcos Piangers, Papai É Pop traz Lázaro Ramos no papel Tom, um homem de bem com a vida, mas um tanto imaturo, casado com Elisa, vivida por Paolla Oliveira. A chegada de Laura (Malu Aloise), filha do casal, faz com que Tom tenha dificuldades de assumir suas novas responsabilidades. Ele terá a ajuda de sua mãe, Gladys (Elisa Lucinda), que criou o filho sozinha após ser abandonada por seu companheiro, para entender como pode assumir uma paternidade ativa mesmo sem ter tido uma referência paterna na infância.

O filme é dirigido por Caíto Ortiz, de O Roubo da Taça (2016) e Estação Liberdade (2013).

Onde assistir: Prime Video

  • Um Longo Caminho, de Zhang Yimou (Panorama Mundial, Festival do Rio 2006)


Foto: divulgação/Sony Pictures Classics

A busca por reconciliação e pela cura de antigas feridas familiares marca a jornada emocional proposta pelo melodrama Um Longo Caminho, dirigido pelo realizador chinês Zhang Yimou (O Clã das Adagas Voadoras). Na trama, um idoso japonês chamado Takata Gouichi (Ken Takakura) deixa a pacata vila de pescadores onde vive para visitar seu filho, Kenichi (Kiichi Nakai) que está padecendo com uma agressiva forma de câncer em Tóquio. Os dois romperam relações quando a matriarca da família faleceu, rusga que ainda persiste e faz com que o filho se recuse a receber o pai no hospital.

Disposto a fazer qualquer coisa para ser perdoado, Takata decide sair em viagem novamente para cumprir um dos desejos finais do filho, um proeminente estudioso das óperas tradicionais chinesas, e registrar em vídeo um espetáculo que tanto fascina Kenichi. Porém, ao chegar na província chinesa que receberia a aguardada performance, ele descobre que o artista que iria se apresentar está preso. Com isso, Takata acaba se conectando emocionalmente com o filho ilegítimo do artista enquanto reflete sobre suas próprias falhas como pai.

Onde assistir: Prime Video (com assinatura premium do canal Sony One)


Foto: divulgação/Netflix

Noah Baumbach, realizador responsável A Lula e a Baleia, Frances Ha e História de um Casamento, assina a direção e o roteiro de Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe. Na trama, três irmãos, interpretados por Adam Sandler, Ben Stiller e Elizabeth Marvel, lidam com as excentricidades de seu pai, o egocêntrico e enérgico artista Harold Meyerowitz, vivido por Dustin Hoffman.

Esta comédia dramática mostra como o ego inflado de um pai que negligenciou o bem-estar emocional dos filhos pode ter efeitos duradouros na vida adulta, mas também destaca a complexidade e nuance dos sentimentos familiares, mostrando como o desejo de reconciliação pode persistir.

Exibido em Cannes em 2017, onde competiu pela Palma de Ouro.

Onde assistir: Netflix

  • Andando, de Hirokazu Kore-eda (Panorama Mundial, Festival do Rio 2009)


Foto: divulgação/IFC Films

O cinema de Hirokazu Kore-eda tem como uma de suas marcas o olhar compassivo, humanista e por vezes melancólico das relações familiares, examinando as contradições e silêncios que permeiam os vínculos afetivos formados em casa. Em Andando, o cineasta japonês narra  a história de uma tradicional reunião anual da família Yokoyama, que se encontra para revisitar a memória do falecido filho mais velho, Junpei, morto 15 anos antes quando tentava salvar um menino do afogamento.

O peso de um luto prolongado e de uma série de expectativas frustradas e ressentimentos marca a trama, que enfatiza a relação tensa entre Kyohei, o patriarca dos Yokoyama, um médico aposentado rígido e emocionalmente indisponível, e Ryota, o filho sobrevivente, que sente que nunca recebeu a devida atenção de seus pais.


Foto: divulgação/Universal

Projeto mais ousado da carreira do diretor norte-americano Richard Linklater, Boyhood: Da Infância à Juventude foi rodado ao longo de 11 anos para seguir a premissa do cineasta de acompanhar a jornada de crescimento do menino Mason, vivido por Ellar Coltrane.

Ethan Hawke, figura recorrente nos filmes de Linklater desde Antes do Amanhecer (1995), interpreta Mason Evans Sr., pai do protagonista. O personagem oferece uma representação realista, com matizes e contradições, de um pai separado que vive, em paralelo ao desenvolvimento das crianças, sua própria jornada de amadurecimento, com erros e acertos, enquanto busca se conectar com seus filhos e encontrar seu próprio caminho na vida.

Neste projeto, que venceu um Oscar (melhor atriz para Patricia Arquette), três Globos de Ouro e rendeu a Linklater o prêmio de melhor diretor no Festival de Berlim, o cineasta dirige sua própria filha, Lorelei Linklater, que interpreta a irmã de Mason e filha do personagem de Hawke.

Onde assistir: Netflix

  • Um Lugar Qualquer, de Sofia Copolla (Panorama Mundial, Festival do Rio 2010)


Foto: divulgação/Universal

A cineasta Sofia Coppola dirige e assina o roteiro de Um Lugar Qualquer, drama com toques de comédia que venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2010. O filme examina, de maneira vagarosa e quase introspectiva, o vínculo entre um bem-sucedido ator em crise existencial, interpretado por Stephen Dorff, e sua filha de 11 anos, Cleo, vivida por Elle Fanning, abandonada pela ex-esposa do artista na porta do hotel de luxo onde ele estava hospedado. O contato com a menina faz o ator se confrontar com a superficialidade de sua vida em Hollywood se permitindo repensar suas prioridades.

Na época do lançamento do filme, Sofia Coppola afirmou em entrevistas que se baseou em aspectos de sua própria infância para compor elementos da trama, lembrando do fascínio que sentia ao acompanhar seu pai, Francis Ford Coppolla "em um mundo onde geralmente as crianças não entram". A diretora, entretanto, pontuou que seu pai sempre participou de sua criação, um contraste com a relação apresentada em Um Lugar Qualquer.

Onde assistir: disponível para aluguel no Prime Video, YouTube e Apple TV

  • Busca Implacável, de Pierre Morel (Panorama Mundial, Festival do Rio 2008)


Foto: divulgação/20th Century Studios

Liam Neeson já tinha mais de 30 anos de carreira e papéis de destaque em Hollywood quando sua trajetória artística tomou uma guinada um tanto inesperada a partir de sua atuação Busca Implacável, estabelecendo o ator como um astro cada vez mais requisitado do cinema de ação.

No filme, rodado na França e produzido e corroteirizado por Luc Besson, o ator interpreta um agente da CIA aposentado que volta às armas para salvar sua filha, que foi sequestrada em Paris. A obra apresenta a paternidade por uma lente intensa, representando a ideia de sacrifício pela família e modulando o estereótipo idealizado do pai protetor.

Onde assistir: Disney+


Foto: divulgação/Diamond Films

Conhecido pela visceralidade de sua atuação e por viver vilões e figuras perturbadoras (ou perturbadas) nos cinemas, Willem Dafoe colecionou elogios da crítica ao mostrar sua versatilidade como ator em um papel mais tenro e cheio de sutilezas em Projeto Flórida.

Coadjuvante, Dafoe interpreta Bobby Hicks, gerente de uma simplória hospedagem de beira de estrada nas cercanias dos parques Disney. Distante da ostentação dos famosos parques temáticos da Flórida, o filme acompanha a rotina da jovem de poucos recursos Halley, que luta para criar sua filha Moonee, uma menina seis anos cheia de energia. Mesmo não sendo o pai biológico de Moonee e outras crianças que brincam nas instalações do hotel, Bobby é uma figura paterna para essas crianças, sempre oferecendo apoio e demonstrando preocupação com o bem-estar da criança.

O filme é dirigido por Sean Baker, que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2024 com Anora, e comandou Tangerina (2015), vencedor do Prêmio Félix de Melhor Longa de Ficção no Festival do Rio 2015. Por seu trabalho neste projeto, Dafoe, que marcou presença no Festival do Rio 2011, recebeu a terceira de suas quatro indicações ao Oscar nas categorias de atuação.

Onde assistir: Max

  • Diário de uma Busca, de Flávia Castro (Première Brasil, Festival do Rio 2010) 


Foto: divulgação/Videofilmes

Em Diário de Uma Busca, a cineasta Flávia Castro aborda as circunstâncias suspeitas que envolveram a morte de seu pai, Celso Afonso Gay de Castro, jornalista militante de esquerda que por muitos anos viveu exilado durante a ditadura militar no Brasil. Ao lado de um amigo, ele foi encontrado morto no apartamento de um ex-oficial nazista em Porto Alegre em 1984. 

O documentário registra o ímpeto da cineasta de se confrontar com essa página dolorosa de sua história familiar e de celebrar o legado de seu pai para além do desfecho dramático de seus dias, contando com entrevistas com seus irmãos, que também refletem sobre o impacto dessa ausência. O filme venceu o Troféu Redentor de Melhor Documentário e o Prêmio da Crítica FIPRESCI no Festival do Rio 2010.

Onde assistir: Prime Video (com assinatura premium)


Foto: divulgação/Pyramide Distribution

Esta comédia dramática francesa aborda o tema da relação entre pai e filha com ênfase na vulnerabilidade emocional paterna. 

Em A Filha do Pai, exibido na Semana da Crítica no Festival de Cannes 2023, Etienne, interpretado por Nahuel Pérez-Biscayart, criou sua filha, Rosa, sozinho após ser abandonado repentinamente por sua companheira, evento que o traumatizou. 

O filme acompanha a criação de Rosa ao longo dos anos e a sombra da mãe ausente que pairou sobre pai e filha por todos esses anos. Quando Rosa, deixando a adolescência para entrar na fase adulta, está saindo de casa para a faculdade, Etienne terá de lidar se confrontar novamente com o sentimento de abandono e tratar suas cicatrizes emocionais.


Foto: divulgação/Pandora Filmes

Lyon, 1961. Emile (Jules Lefebvre), 12 anos, vive na companhia da mãe e do pai (Benoît Poelvoorde), este último um mitômano que encarna para o filho diversas profissões. Com um olhar lúdico, o menino idolatra o pai e acredita em todas as histórias contadas por ele, que diz já ter sido para-quedista, faixa preta de judô, pastor de uma igreja pentecostal americana, espião e conselheiro do general Charles de Gaulle, presidente da França. A vida do menino se complica quando o pai lhe passa supostas missões secretas e perigosas para ajudar a salvar a Argélia, em guerra contra a França, incluindo um plano mirabolante para matar o líder frances.

  • Qual é Seu Trabalho, Papai?, de Hervé Pierre-Gustave (Midnight Movies, Festival do Rio 2014)


Foto: divulgação/Capricci Films

Enquanto se prepara para iniciar as filmagens de seu novo filme, o ator e diretor pornô Hervé descobre que seu filho pequeno começa a andar. Para sua companheira, Gwen, esse é o momento para que Hervé tome a decisão de seguir sua vida na pornografia ou tente se tornar assumir uma carreira mais convencional, tornando-se um pai e cineasta tradicional. Hervé decide então interromper o projeto e utilizar sua equipe para rodar um documentário improvisado sobre sua paternidade. Câmera na mão, ele passa a entrevistar seus amigos e familiares para tentar responder à pergunta: Como ser um bom pai?

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