Publicado em 03/11/2018

Por: Ana Vigna

Durante a tarde de sábado, dia 3, foi exibido o longa metragem Deslembro da diretora Flávia Castro e participa da competição principal na categoria ficção. Flávia ganhou enorme prestigio com o documentário Diário de uma Busca, lançado em 2010, onde investiga as informações que acercam a morte de seu pai em 1984. 

Deslembro conta a historia de Joana, uma jovem de 15 anos, brasileira e moradora da França que se encontra em meio de uma mudança iminente, voltar à sua terra natal em uma época cheia de incertezas e medos, tendo em vista que o Brasil entrava em uma enorme fase de transformação acometida pela ditadura militar. O filme é regado de nostalgia, delicadezas e gentilezas, tudo isso imprimindo o tom de Flávia.

No encontro que foi mediado por Consuelo Lins, documentarista e professora, a mesa estava cheia com a presença dos atores Jeanne Boudier, Hugo Abranches e Sara Antunes, assim como a produtora do filme Gisela Câmara e a cenógrafa e figurinista Ana Paula Cardoso. 

Sobre o roteiro, Flávia conta que começou a escrever em 2009 com o objetivo de abordar o tema das memórias, afirmando também que usou como inspiração o livro Infâncias Roubadas mas principalmente as suas próprias memórias e experiências, já que vive uma jornada tão próxima da personagem principal. Tudo isso foi possível usando a fotografia e cenografia como aliados, Flávia comenta sobre sua direção sensorial, apontada por Consuelo, e como queria fazer um filme atemporal não tão naturalista, com uma mimese imperfeita. 

Ana Paula afirma: “Desde o início a concepção do filme não partiu de uma reconstrução de época, o trabalho começou de uma forma muito diferente, a própria Flávia sempre sugeriu isso, de fechar o olho e tentar flagrar o ponto nervoso do filme, que a gente achou em um sonho sobre veias, sobre justamente esse ponto de contato de Joana com a memória dela e esse mundo, sempre partindo de um ponto sutil ao construir a arte, ao invés de uma reconstituição.” 

Sobre a paleta de cor Ana Paula diz: “A paleta de cor foi uma paleta que a gente buscou, insistiu nela, essa cor que não é uma cor tropical, é uma cor acizentada. A Flávia desde o início falou que o Rio de Janeiro seria um Rio cinzento e que Paris seria uma Paris saturada.” Flávia arremata: “O Rio seria do exílio e Paris seria tropical.”

O debate seguiu repleto de elogios vindo do publico, que saiu da exibição emocionado e com um ar de semelhança, tendo muitos de seus espectadores presenciado a época retratada no longa e muitos outros com a insegurança e incerteza do nosso atual presente. A diretora não deixa de dizer que apesar do nome Deslembro, o filme não passa de uma mensagem para lembrarmos e não esquecermos.




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