Publicado em 29/09/2013


Por Nice Jourdan

Começou animada a sessão do documentário Guerras sujas, no último sábado. Logo depois da diretora do festival, Ilda Santiago, apresentar o jornalista correspondente de guerra, Jeremy Scahill - produtor, roteirista e principal personagem do filme, que também possui um livro com o mesmo nome - já era possível sentir no ar o forte clima politizado que a sessão iria abordar. Jeremy, além de demonstrar sua simpatia pelo Brasil, arrancou aplausos no cinema lotado ao apoiar as manifestações brasileiras e a postura da presidenta Dilma Rousseff em resposta a falta de explicações do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre o caso de espionagem ao governo brasileiro.

Depois de alguns problemas técnicos, que deixou o público ainda mais agitado, o tão esperado debate "Segredos e Mentiras" aconteceu de forma dinâmica e entusiasmada. O público parecia querer prestigiar a figura de Scahill após a exibição. Entre as perguntas, foram até mesmo levantadas algumas questões paranoicas sobre o 11 de setembro e dúvidas a respeito de opções mais seguras de e-mail contra a espionagem. Além de Jeremy, também participou da mesa de debate o jornalista britânico Gleen Greenwall, responsável pela denuncia do esquema de espionagem eletrônica dos EUA, e o mediador, Atila Roque, diretor da Anistia Internacional do Brasil. Para Greenwall, Guerras sujas está entre um dos filmes mais importantes dos últimos anos. 

- Estou muito orgulhoso de ser jornalista, especialmente quando se trata de pessoas correndo grandes riscos para descobrir verdades que precisam ser reveladas para o mundo - afirmou Greenwall após assistir ao documentário pela terceira vez.  

Um filme que mostra a verdadeira politica norte-americana 

Guerras sujas é um desses filmes que quebra totalmente o estereotipo norte-americano. Ele sai dos padrões da estética de guerra onde o soldado é sempre o herói, que o público tanto está acostumado, para mostrar uma nova perspectiva, a de um país vilão.  É história de um jornalista, não nacionalista, um ativista em busca da verdade acima de tudo, mesmo que seja preciso ir contra o rigoroso governo de um país que vive sobre a política de guerra e de interesses econômicos. Para Scahill, o importante é estar do lado da maioria: as maiores vítimas dos conflitos de guerra são pessoas inocentes.

- O filme conta a história de guerras secretas que o Estados Unidos estão lutando ao redor do mundo. Todos sabem que eles estão no Afeganistão e que têm uma base no Iraque, mas esse filme trata daquilo que não vemos na TV. Guerras sujas conta a história dos civis que estão sendo mortos nessas operações – contou o jornalista e produtor durante a entrevista para o site do Festival do Rio. 

Para ele, os EUA estão criando mais inimigos do que matando terroristas, assassinando um enorme número de inocentes sem se preocupar com os direitos humanos. Organizações como o Comando de Operações Especiais Conjuntas (JSOC), iniciados com a Guerra ao Terror, politica assumida pelo Governo Bush após o 11 de setembro, ganhou continuidade durante o governo de Barack Obama, tomando proporções muito maiores e uma lista de vítimas que não para de crescer. Além disso, para Jeremy é uma grande ironia um partido democrata assumir uma postura ditatorial. 

- Durante um discurso na ONU, uma ativista estava atacando o presidente Obama, e a resposta dele foi um discurso imperialista, onde afirmava que iria usar a força militar para proteger os recursos naturais ao redor do mundo. Por acaso a América é a única exceção disso? - fala Jeremy muito indignado sobre o caso que o surpreendeu - Isso é uma coisa extraordinária para se dizer alto e ele disse publicamente na frente do mundo. E, ainda, é considerado um democrata liberal que ganhou o prêmio Nobel. 

A ideia de que o "mundo é um campo de batalha", apresentada no documentário, mostra como os EUA, além de incentivar guerras ao terror, age sempre de acordo com seus interesses. E, de acordo com Jeremy, as maiores ditaduras da América Latina foram financiadas, abertamente ou não, pelo governo norte-americano. 

- Os EUA ligam apenas para dinheiro. Se o Brasil apoiar as escolhas deles, tudo bem, mas se desafiá-los como fez o Hugo Chavez na Venezuela, vai ser tratado como Hitler. Foi assim com Saddam Husseim, nos anos 1980. Ele era um grande fã dos EUA, mas quando fez algo contra os interesses da economia americana, ele se tornou um Hitler.

O jornalista também não acredita nas guerras de narcotráfico. Segundo ele, são uma grande justificativa para os militares americanos organizarem e oferecem treinamentos em outros territórios. As técnicas utilizadas não são usadas para combater o tráfico de drogas, e sim para aprimorar técnicas para batalhas de interesses pessoais, de acordo com a necessidade que bem intenderem. O jornalista correspondente de guerra também deixa um recado para o Brasil, apesar de apoiar a postura da presidenta:

- O governo brasileiro não aceitou o abuso americano, mas é duro com sua própria população. Ele vigia os brasileiros, é corrupto com a justiça, é repressivo com as pessoas nas ruas que lutam pela democracia. E eu garanto que, durante a Copa do Mundo, o governo brasileiro contará com a CIA e a base militar americana para organizar as coisas no país.




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