Publicado em 07/10/2017

O longa-metragem “O Futuro Adiante”, de Constanza Novick, é uma viagem ao interior de uma amizade de vida entre duas mulheres desde a infância até as complexidades da vida adulta, com interessantes elementos emocionais que oscilam entre a leveza narrativa e a profundidade das relações. Sempre juntas, com algumas separações ao longo das três fases em que o filme se divide, as personagens Romina (Dolores Fonzi) e Florencia (Pilar Gamboa) compartilham as suas experiências de forma íntima e com muita cumplicidade.

Constanza escreveu o roteiro buscando uma visão feminina sobre a amizade, partindo da relação entre as personagens desde a infância até a maturidade. Em uma entrevista para o site do Festival do Rio, a diretora nos fala sobre a construção do filme e sobre a produção do cinema argentino atual.

O filme tem uma leveza na forma como a história é contada. Foi algo intencional ou aconteceu naturalmente?
Acho que o filme tem uma leitura fácil e subtexto um pouco mais profundo. Não foi algo pensado. Nunca pensei em contar os vínculos, a maternidade e as relações com profundidade. Os personagens me foram aparecendo enquanto eu escrevia a história. E eu festejo essa profundidade. No Festival de Toronto me diziam que o filme parecia ser um “cult movie”, o que não me parecer ser algo ruim. Não acho que o filme seja leve em termos de frivolidade. Acho que tem a sua própria profundidade e o seu devido lugar. Eu fiz o que quis. Não pensei algo como “Ah não vou colocar uma música pop para que não pareça comercial”. Filmei, escrevi e escolhi os atores que eu quis. E o resultado está aí.

Como o filme gira em torno do universo feminino e da história de Romina e Flor, os homens são elementos secundários na história. Eles não parecem ser um pouco idealizados no filme?

Muitas vezes me disseram que os homens não existem na história ou como personagens. Que são apenas uma pintura. Escutei todos os tipos de comentários sobre isso. Que são elementos decorativos e que estão em função das mulheres. Um amigo diretor de cinema, muito inteligente inclusive, me disse que os personagens homens são muito bondosos. Eu acho que são. Tem alguma idealização. Tem algo como peças que se movem em função delas, que giram ao redor delas. Com certeza eles não têm muitos matizes e estão ali apenas para descreverem os momentos das vidas das personagens. E não haveria espaço para aprofundar os personagens masculinos.

Como tem sido fazer cinema na Argentina hoje?

Eu não tenho acesso ao cinema brasileiro na Argentina. O que acho terrível. Não só do Brasil. Do Uruguai, Paraguai, Colômbia... E acho muito ruim, porque o que nos chega são os filmes de Hollywood e os nacionais, somente porque temos uma lei que obriga a uma exibição mínima do nosso próprio cinema. Vejo filmes de outros países quando vou a festivais. Mas produzir na Argentina me parece ser mais fácil pelo o que tenho conversado com as pessoas aqui no Brasil, porque é muito mais barato. Aqui (no Brasil) é necessário muito mais dinheiro para se fazer um filme. Mas agora há uma crise na indústria cinematográfica argentina porque mudou o governo. E também está mudando a política cultural em todo o país. Há um receio de que as produtoras pequenas parem de receber subsídios e apoios. Então realmente não sabemos que vai acontecer.

Sinopse
Quando o casamento dos pais de Florencia termina, ela encontra refúgio no apartamento de Romina, sua melhor amiga. As pré-adolescentes querem passar o tempo todo juntas e compartilham tudo: a escola, as aulas de dança e a idolatria pela ginasta Nadia Comaneci.  Vinte anos depois, elas se reencontram. Romina agora é mãe, enquanto Flor se tornou uma bem sucedida escritora. Uma gostaria de ter a vida da outra e a inveja toma conta da relação. A história de uma amizade que perdura do primeiro amor ao divórcio, um relacionamento complexo que resiste ao teste do tempo. Festival de Toronto 2017.



Voltar