Publicado em 10/10/2017

Texto: Maria Cabeços

Fotos: Brenda Vianna

O nome da morte trata questões psicológicas no Cine Encontro desta segunda-feira (09/10). O debate foi mediado pelo crítico de cinema Pablo Villaça. Entre os convidados a mesa foram o direto Henrique Goldman, o roteirista George Moura e a atriz Fabíola Nascimento. O filme envolve a temática sobre o valor da vida na história do pistoleiro Júlio Santana.

Goldman conta como a determinação do gênero surgiu de um processo gradativo e natural. "Temos que entender que parte da história se passa dentro da cabeça dele, então, aos poucos foi assumido a forma de thriller, mas sem a necessidade consciente de fazer um filme de gênero. Foi uma coisa quase que natural". 

O que mais chamou a atenção de Moura para participar dessa produção foi a complexidade do protagonista e de como desenvolver uma história comum na dramaturgia de uma forma que saia do banal. "O que mais me impressionou foi o personagem. O maior desafio era como começar a contar essa história, que era atual e, absolutamente, terrível, mas repetitiva. Então, fazer, em um recorte de duas horas, uma seleção dramatúrgica - não apenas fazer uma sucessão de fatos - que desse uma dimensão de onde esse cara saiu e para onde ele foi. Acho que, também, estávamos fazendo um filme um pouco como a gênese do mal, como uma pessoa boa pode se tornar uma pessoa assustadoramente terrível. Então, acho que isso que foi a embocadura e, de fato, isso se transformou em um filme tenso e de suspense”.

Villaça ressalta a questão do protagonista ser um anti-herói e a empatia que o telespectador tem sobre ele. “É realmente um desafio, porque ele está agindo de forma totalmente inaceitável, mas o filme é um comentário, também, a respeito da sociedade – sobre o mundo que o inventou. A pistolagem faz parte de um contexto histórico, político, regional e social. No momento em que a gente se limita a julgá-lo, por outro lado absolve todas essas responsabilidades da sociedade. As responsabilidades do anti-herói estão bem claras, mas onde está a nossa responsabilidade? ”, indaga Goldman. Fabíola completa ao dizer “ Você não torce por ele, mas fica do seu lado. Ele é mais uma grande vítima da sociedade”. 

“No trabalho de pesquisa, um amigo psiquiatra deu uma consultoria do ponto de vista psiquiátrico e tentando entender do ponto de vista médico como a medicina ia considerar ele, porque existe um grau de psicopatia no comportamento dele, sem dúvida, mas, assim como outras doenças, a psicopatia ela é mensurável”, conta o diretor.“ Sem dúvida, ele é um psicopata, porque ele não se deixa identificar com o outro ao ponto de matar, de não se reconhecer no outro”. Com isso, moura esclarece, “Eu gosto do quanto o cinema é capaz de penetrar nas sombras do humano. Eu acho que vai para um lugar muito interessante de investigação. A ideia nunca foi da gente construir um filme nem condenatório, nem laudatório”

Quanto a personagem feminina, Maria, Moura a descreve como uma figura complexa, pois transita entre a vítima e cúmplice. “Acho que é um personagem muito difícil, que a Fabíola faz brilhantemente, que é o personagem do cúmplice. É aquele que, em primeiro momento, se indigna com o que vê e depois passa a ter um ‘de acordo’”. Fabíola revela sobre seu ponto de vista de criação desse papel, “Se a gente julgar tudo que a gente faz, acaba não conseguindo realizar. A gente trabalhou muito”. Acrescenta que foi um trabalho que realizou junto ao roteirista na compreensão das emoções que deveriam ser sentidas e transmitidas. Para isso, utilizou artifícios, como a música.

Além disso, Goldman comentou sobre a preferência da história ser contada subliminarmente, o que pode ser visto tanto no aspecto fotográfico, quanto no design sonoro e na produção. “No cinema, há uma linguagem muito rica, que, ao mesmo tempo, pode simultaneamente estar contando a história através da atuação, do roteiro ou de ângulos de câmera. É muito rico e expressivo, então, tem mil oportunidades de contar a história em níveis diferentes. Essas narrativas das cores, junto com a narrativa do personagem, ajudam a não explicitar certas coisas em um diálogo”.




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