CARVÃO: AS IDIOSSINCRASIAS DA FAMÍLIA TRADICIONAL BRASILEIRA DIRETORA CAROLINA MARKOWICZ CONVERSOU COM O PÚBLICO SOBRE SEU PRIMEIRO LONGA
O último debate da Première Brasil na quinta-feira (13) colocou o público em diálogo com a equipe de Carvão, escrito e dirigido por Carolina Markowicz, e teve mediação da professora Denise Lopes.
Carolina, que teve as primeiras ideias em 2014 e começou a escrever de fato em 2016, contou que cresceu no interior de São Paulo, do lado de Joanópolis, cidade em que se passa a trama. Sempre fascinada, no bom e no mau sentido, pelas idiossincrasias das performances sociais, valores invertidos e o conservadorismo do interior paulista, ela foi fomentando essas questões por muito tempo, num desenvolvimento que acabou bastante influenciado pelos eventos políticos brasileiros dos últimos anos.
Segundo ela, primeiro o roteiro era focado na organização que troca pessoas, depois no traficante estrangeiro, até se voltar para a família, instituição que “vem apavorando o nosso país [...], com tudo que representa em termos de valores e verdades para a nossa sociedade”.
Maeve Jinkings, que está no projeto desde a origem, comentou sobre as mudanças: “[...] Tudo que nas primeiras versões do roteiro me parecia nonsense, foi ganhando ar de realidade. Quando li a última eu tive um ataque de riso meio nervoso, mas ao mesmo tempo foi uma maneira de me aproximar dessas pessoas que eu tinha um desejo profundo de compreender. Que fronteira é essa em que a gente se separa, mas quase se junta?”.
De acordo com a produtora Zita Carvalhosa, o processo foi realmente longo – especialmente antes da filmagem – e sofreu várias alterações, mas Carvão sempre foi um conto moral. O ator argentino César Bordón, que leu 22 versões do roteiro, ressaltou a irreverência de Carolina, que, em sua visão, põe tudo em dúvida: questões estéticas, morais, religiosas, familiares...
Um dos destaques do elenco é o menino Jean de Almeida Costa, morador da cidade descoberto por acaso, jogando bola. Carolina explicou que queria muito pessoas de Joanópolis no elenco, contribuindo com a prosódia e a verdade do lugar. Ela disse que o laboratório na cidade foi intenso, dando como exemplo a aproximação que Maeve, vegana, teve com uma moradora que vivia de matar galinhas e cozinhar para fora – como sua personagem.
“Quando você consegue identificar um personagem real que se sente à vontade pra estar diante da câmera com atores profissionais, a verdade é que eles nos ajudam profundamente [...]. Esses personagens reais, na hora da cena e no processo de ensaio, eram a nossa maior fonte de vida”, observou a atriz, que revelou ainda que teve alguns de seus maiores insights nas missas dominicais que frequentou para se preparar. “Isso tudo foi fundamental pra gente poder se colocar mesmo no lugar deles, defendê-los”, finalizou Maeve Jinkings.
Carvão estreia nos cinemas brasileiros em 03/11.
Texto: Taiani MendesFoto: Francisco Ferraz
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