Publicado em 13/10/2022

Encerrando os debates da quarta-feira (12), o jornalista e crítico de cinema Luiz Carlos Merten conversou com o diretor Fernando Fraiha, a atriz Débora Falabella, o escritor Daniel Galera e a produtora Karen Castanho sobre o filme Bem-vinda, Violeta!.

Fernando disse que já era fã do livro “Cordilheira”, de Galera, quando foi convidado pela produtora RT Features a adaptá-lo. O que ele tomou como ponto central foi o jogo entre a ficção de Holden, mestre que quer morrer através da literatura e fazer um sacrifício artístico, e a de Ana, personagem de Débora. Segundo Fraiha, foram dezessete tratamentos de roteiro e três anos de escrita. Processo que ganhou a colaboração fundamental da uruguaia Inés Bortagaray no meio do caminho e incluiu uma espécie de consultoria do próprio autor Daniel Galera.

Daniel, que publicou o romance em 2007, disse que essa foi a adaptação de obra sua que mais participou, ainda que não goste de se envolver muito. O autor revelou que aprendeu muito sobre roteiro durante o trabalho, se sentiu bastante ouvido e adorou a mudança mais significativa feita na trama, que foi o fato de Ana ir à Argentina para uma residência de escrita e não lançando um livro – sugestão de Inés.

“Até brinquei que, se pudesse voltar atrás, reescreveria o romance com a ideia da residência, pois vi muitas possibilidades narrativas interessantes saindo disso”, afirmou Galera, que também explicou que “Cordilheira” é seu único livro resultado de uma encomenda. O autor participou de um projeto chamado Amores Expressos, em que brasileiros foram enviados a diferentes cidades do mundo com a incumbência de escrever uma história de amor que se passasse naquele cenário. Seu destino foi Buenos Aires e ele adaptou para lá uma ideia que já tinha, mas seria sediada em São Paulo.

Débora Falabella, que interpreta a protagonista, comentou que o processo que a escritora Ana vive é muito parecido com o de atriz, onde acaba abandonando sua vida para viver outros personagens. “Claro que ali ela leva até as últimas consequências, mas isso me instigou demais”, declarou Débora, contando que recebeu o convite no meio da pandemia, foi pra Ushuaia, na Terra do Fogo, meio no susto e fez a preparação toda virtualmente. Apesar de ter morado na Argentina por um ano há duas décadas, ela não era mais fluente no espanhol e falou da dificuldade de se expressar como atriz em outra língua, o que exigiu um mergulho maior no texto e o auxílio de uma fonoaudióloga local.

Segundo a produtora Karen Castanho, as gravações aconteceriam no inverno de 2020, mas acabaram adiadas por cinco meses pelo fechamento das fronteiras da Argentina. Foi esse contratempo, no entanto, que permitiu a entrada de Falabella no filme, pois antes ela não tinha disponibilidade.

Compartilhando detalhes mais técnicos, o diretor Fernando Fraiha mencionou como inspirações a iconografia japonesa, filmes coreanos e a ideia de sacralização da morte. Sua cena favorita tem um diálogo de doze minutos entre duas pessoas, algo que vai contra todos os manuais de roteiro, e o filme foi todo feito com luz natural – ou “pano preto, isopor e sol” –, aproveitando as 21 horas de dia na região.


Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz



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