Publicado em 08/10/2024

Baby, de Marcelo CaetanoBaby, de Marcelo Caetano

Por Laís Malek

A noite de terça-feira (8) no Cine Odeon - CCLSR começou animada. A exibição do longa Baby, de Marcelo Caetano que compete na mostra Première Brasil do Festival do Rio 2024, teve uma reação intensa do público — o cinema lotado irrompeu em assobios, gritos e palmas quando a cartela com o nome do filme apareceu na tela, e muitos dos presentes até se levantaram para aplaudir. Depois do longa, elenco e equipe conversaram com os presentes e contaram mais sobre a história. 

O longa acompanha Wellington (João Pedro Mariano), um jovem de 18 anos que acabou de sair de uma instituição de detenção de menores infratores. Ao voltar para a rua, ele tem um único objetivo: encontrar os pais, dos quais não tem notícias desde que foi preso. O desejo de voltar para casa norteia todas as decisões do personagem ao longo do filme, o que acaba levando o jovem para diferentes e complicados caminhos.

Baby, de Marcelo CaetanoBaby, de Marcelo Caetano

Em suas peregrinações pela cidade, ele encontra Ronaldo (Ricardo Teodoro), um homem mais velho que oferece a ele moradia e uma forma de ganhar dinheiro. Ele batiza o jovem literal e metaforicamente: em sua primeira experiência como trabalhador do sexo, Wellington foge desesperado, e Ronaldo o apelida de Baby.

A relação dos dois passa por desafios e reviravoltas ao longo do filme, mas a todo tempo o sentimento do cuidado está presente.São diversas as maneiras: quando Ronaldo leva Baby para conhecer sua família, quando a ex-mulher acompanha Ronaldo e Baby quando ele conhece a irmã bebê, e também nas cenas de intimidade entre os dois. Marcelo Caetano conta que detalhou para os atores como seria a parte física dessas sequências, e só depois de todos estarem de acordo e ensaiarem a cena, era o momento de rodar. Ele dá mais detalhes sobre o processo de gravação desses momentos.

“O roteiro já propunha bastante toque e intimidade entre os atores. Se você já chega criando toda uma moralização por conta do corpo nu, entra um pouco com um pé esquerdo. Eu acredito nesse cinema do toque e na sensualidade, acho que é parte da vida humana, e ainda mais dos personagens nesse contexto. Não tem como não abordar dessa maneira, seria desonesto falar de prostituição sem essas cenas”, avalia o diretor.

Baby, de Marcelo CaetanoBaby, de Marcelo Caetano

O filme foi exibido na Semana da Crítica do Festival de Cinema de Cannes, onde Ricardo Teodoro foi eleito o Melhor Ator Revelação. Ele conta que, antes de rodar o filme, o elenco fez ensaios gravados na casa do diretor, o que contribuiu para a imersão no personagem. 

“Me deu um sentimento muito grande de pertencimento como ator brasileiro. Muitas vezes, a gente pode que precisa fazer um curso lá fora ou algo do tipo, mas foi pelo mérito, pelo êxito, pela disciplina. Fez muito sentido ganhar o prêmio em Cannes pela ideia da sala de ensaio, pelo tanto de trabalho duro que a gente teve. Saí das minhas redes sociais para me dedicar 100% a esse filme, e o prêmio foi um carimbo de que deu certo”, conta.

Debate de Baby com a presença do diretor, Marcelo Caetano e o elenco: Ricardo Teodoro, João Pedro Mariano, Luiz Bertazzo e Bruna LinzmeyerDebate de Baby com a presença do diretor, Marcelo Caetano e o elenco: Ricardo Teodoro, João Pedro Mariano, Luiz Bertazzo e Bruna Linzmeyer — Foto: Kayane Dias

A cidade de São Paulo não só ambienta a trama, mas contorna toda a narrativa. A temática da ocupação dos espaços públicos está presente em todo o filme, com Baby expulso de uma estação de metrô no início e fazendo apresentações culturais dentro de um ônibus, no final. Os amigos do protagonista, todos parte da comunidade LGQBTIA+ e em maioria negros, se tornam parte da paisagem da cidade. Depois de passar por diferentes lugares, este é cenário que Baby escolhe como sua casa. O diretor explica a relação das marcas no corpo do protagonista com a noção de cidade.

“Queria imaginar o tecido da cidade como o tecido do corpo, então a cena da cicatriz é uma forma de amarrar esse discurso. É uma cidade que foi cortada por viadutos, linhas de trem, obras estapafúrdias, que fizeram o centro de São Paulo passar a uma margem simbólica. Queria fazer um filme que falasse sobre movimento, que entendesse o centro de São Paulo como um espaço onde as pessoas passam, constroem suas vidas, às vezes deixam e vão embora. E essa também é a nossa história, nós três [com João e Ricardo] nos mudamos para trabalhar com arte em São Paulo”, conclui Caetano.

Baby, de Marcelo CaetanoBaby, de Marcelo Caetano

Leia também:

Siga o Festival do Rio nas redes sociais:



Voltar