Publicado em 16/12/2021


O segundo debate da Première Brasil de quarta-feira, 15/12, envolveu o curta Quando o tempo de lembrar bastou, de Felipe Quadra, e o longa Casa vazia, de Giovani Borba. Marcelo Müller, crítico de cinema e mediador do bate-papo, abre o diálogo trazendo a importância das casas e do tema familiar nas produções e pergunta aos cineastas sobre as inquietações que os motivaram a produzir as obras.

Felipe começa falando dos conhecidos problemas e tragédias desencadeados pelas chuvas de verão na região Serrana do Rio de Janeiro e conta que o personagem principal, que se nega a sair de casa após uma terrível enchente, foi criação do corroteirista, Victor Rosa. Elementos fantásticos e simbolismos foram incluídos na receita e o cineasta observa que os dois filmes da sessão dialogam bastante também pela questão da memória.

Provocado pelo mediador a comentar a crise de identidade da figura do gaúcho em voga no cinema sulista, Giovani revela que uma grande influência para seu trabalho foi a Trilogia do Gaúcho a Pé, de Cyro Martins, e reconhece o esforço de colocar o gaúcho "de verdade, sem bota", na tela. Segundo ele, a história surgiu do medo que adquiriu de se perder do filho e de sonhos frequentes que passou a ter com casas pegando fogo. Para contrabalançar a melancolia do pai de família abandonado, incluiu violência na trama.

Marcelo Müller destaca que ambos os títulos são protagonizados por homens bastante calados e Giovani afirma que seu plano era trabalhar apenas com não-atores, mas a realidade se impôs e ele investiu numa mistura de moradores da região, atores amadores e profissionais experientes para manter o drama de pé. Para o personagem principal, no entanto, o diretor não abriu mão da ousadia de arriscar e escalou Hugo Noguera, um peão sem experiência prévia com audiovisual. Presente na plateia do debate, Noguera definiu o trabalho como uma "alegria só" e disse estar disposto a fazer outras produções, agora que passou pela experiência inédita.

Comentando as imagens do Pampa que Casa vazia apresenta, o diretor lembra que frequentava a área quando criança e era verde, mas agora tudo está amarelo por causa da soja. A vontade de colocar isso no filme veio da tristeza despertada nele pela transformação.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Frederico Arruda

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