Semana Santa: Andrei Cohn comenta a reinterpretação de seu filme após os eventos 'terríveis' em Gaza Escrito há anos pelo diretor romeno, drama de época relata o conflito entre um judeu e um cristão em 1900: "Espero que esses conflitos terminem e o filme possa ser interpretado conforme a minha visão".
Semana Santa, de Andrei Cohn
Diretor do elogiado Semana Santa (Saptamana Mare), o diretor romeno Andrei Cohn é o tipo de artista modesto, de fala mansa, que prefere se expressar por sua arte. Convidado a apresentar seu filme para o público do 26º Festival do Rio, ele fez diferente do que se espera: "Eu gostaria de convidar as pessoas a ver todos os filmes presentes no festival. Mas eu também ficaria muito feliz se as pessoas vissem o meu filme, assim como os outros. Tenham um ótimo festival!", disse ele, no primeiro sábado do festival (5).
Uma semana depois, neste sábado de Dia das Crianças, Semana Santa volta aos cinemas do Festival do Rio 2024 com sua história de época, ambientada em 1900, que mostra a tensa relação entre o judeu Leiba, dono de estalagem, e seu funcionário cristão Gheorghe, o que culmina na expulsão do empregado. Vingativo, Gheorghe promete voltar ao estabelecimento na Páscoa para acertar as contas. Essa ameaça é a gota d'água contra o esforço de Leiba em conviver naquele ambiente hostil e antissemita — o que iniciará um processo psicológico difícil, repleto de ansiedades, e levará a consequências extremas.
Andrei Cohn no Festival do Rio 2024 — Foto: Davi Campana/Festival do Rio
“Como eu escolhi esse tema é difícil dizer. Mas o filme conta a história de um judeu e eu também sou judeu. Então, de certa forma, eu vivo essa história desde que era muito jovem. Até que chegou um momento em que eu decidi escrever esse roteiro, que é uma adaptação livre de um romance escrito por Ion Luca Caragiale — um dramaturgo romeno famoso que, em minha opinião, é o maior do nosso país. Mas a forma como essa ideia nasceu ficou um pouco perdida no tempo”, diz Cohn, referindo-se à obra “O Făclie de Paște” (An Easter Torch, 1889), de Caragiale, citando um ponto importante: Semana Santa foi escrito anos antes dos conflitos recentes entre Israel e Palestina.
“Eu preciso dizer, e sublinhar, que eu comecei este filme muito tempo antes das coisas terríveis que estão acontecendo em Gaza”, diz Conh, lamentando como o “infeliz” timing de lançamento do filme pode ressignificar sua obra e impedir os espectadores de enxergarem sua abordagem. “O filme não fala sobre política, mas sobre seres humanos. Essa questão política e histórica é apenas o pano de fundo. Mas, no contexto atual, o que devia ser pano de fundo salta à frente das pessoas — e isso está totalmente fora do meu controle.”
Semana Santa, de Andrei Cohn
De férias no Brasil com toda a família, curtindo as belezas do Rio de Janeiro ("Essa cidade é incrível!"), Andrei Cohn lamenta os conflitos que assolam o mundo atualmente. A partir disso, ele esclarece: uma chave para entender como Semana Santa se relaciona com o mundo atual, conforme a sua visão, é notar que “essa história, em linha gerais, é sobre uma vítima que se torna agressora”.
“O tempo conserta tudo. É uma pena as questões sociais e políticas trazidas pela guerra marcarem o filme com uma assinatura sombria. Mas espero que esses conflitos terminem, o tempo passe e o filme possa ser interpretado de acordo com a minha visão, focada na dimensão humana daquele conflito, e não na dimensão histórica e política do mundo”, ele conclui.
Para satisfazer sua curiosidade e entender o motivo dessas preocupações de Andrei Cohn e as possíveis leituras que as pessoas têm feito do filme, confira as últimas sessões do filme Semana Santa:
SÁB 12/10 21:00 Estação NET Gávea 2
QUA 16/10 16:30 Estação NET Botafogo 1
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