No Dia da Amizade, amigos cinéfilos que frequentam Festival do Rio juntos compartilham memórias sobre o evento "É isso que o festival representa para a nossa amizade: o carinho de dedicar um filme, de dizer que 'lembrei de você', 'esse filme é a sua cara'. É uma tradição anual."
Foto: Christian Rodrigues/Festival do Rio
Por João Vitor Figueira
Seja na divertida dinâmica entre João Grilo e Chicó em O Auto da Compadecida (2000), na jornada de amadurecimento e autodescobertas do quarteto de adolescentes de Conta Comigo (1986) ou no companheirismo que desafia estereótipos das personagens-título de Geena Davis e Susan Sarandon em Thelma & Louise (1991), o cinema está repleto de produções que exaltam a amizade de seus protagonistas e se tornaram símbolos de lealdade e companheirismo.
Histórias sobre camaradagem e fraternidade podem render filmes clássicos e personagens que inspiram e emocionam, mas, no cinema, a celebração da amizade não se limita ao que é projetado nas telonas. Neste sábado, dia 20 de julho, é celebrado o Dia do Amigo no Brasil e em países como Argentina, Chile e Uruguai — em 2011, a ONU instituiu o dia 30 de julho, lembrado em outras nações, como o Dia Internacional da Amizade.
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Além de ser um evento de referência na América Latina, com 25 anos de tradição e prestígio, o Festival do Rio é um ponto de encontro para amigos e amigas que têm no cinema uma paixão comum, permitindo encontros (e reencontros), boas conversas após as sessões e a criação de lembranças duradouras.
Festival do Rio fortaleceu amizades e criou tradições
“Eu devo meu encantamento pelo Festival do Rio aos meus amigos”, avalia Rodrigo Torres, redator e analista de marketing que acompanha o evento há mais de 10 anos.
Sua primeira experiência no festival, que recentemente foi reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, se deu na edição de 2011, quando atuava como crítico de cinema em um site especializado. Ele recorda que foi convidado por um amigo a participar da estreia do filme O Levante, que depois viria a se chamar Juan e a Bailarina, lançado em 2012, e que a sessão o fez ser capturado pelo clima de efervescência que aflora durante os dias de mostra.
Rodrigo Torres acompanha o Festival do Rio desde 2011 (Fotos: acervo pessoal)
“Foi um dos eventos mais legais de que eu já participei nesses 13 anos de festival. Depois do filme, teve uma festona na casa do diretor Raphael Aguinaga e ali eu estreitei laços que mantenho até hoje com várias pessoas da crítica", recorda.
Nos anos seguintes, acompanhar o Festival do Rio se tornou uma tradição incontornável para Rodrigo, que passou a criar programações personalizadas para cada amigo, com uma seleção especial que leva em consideração o paladar cinéfilo de cada um.
"É isso que o festival representa para a nossa amizade: o carinho de dedicar um filme, de dizer 'lembrei de você', 'esse filme é a sua cara'. É uma tradição anual", conta.
Foi através da influência de Rodrigo que a professora Paula Soares, que dividia apartamento com o amigo em 2018, passou a acompanhar o Festival do Rio, atividade que por muitas edições foi uma tradição para ela e os demais colegas de apartamento. "Conseguíamos ir para as sessões com os outros moradores da casa. Era nosso programa preferido porque víamos muitos filmes mesmo", diz ela, que recorda ter acompanhado quatro sessões seguidas no mesmo dia durante uma verdadeira maratona cinéfila.
O ritmo frenético das sessões, entretanto, não afetava a disposição dos amigos para analisar o que tinham acabado de assistir. “A gente sempre saía dos filmes e ficava debatendo sobre as cenas, as atuações, fazíamos uma análise e elegíamos nossos preferidos do festival”, recorda Paula.
Maratonar sessões no Festival do Rio foi uma tradição importante para a amizade de de Rodrigo Torres e Paula Soares (Foto: arquivo pessoal)
Para Rodrigo Torres, que já fez parte da equipe editorial de sites como AdoroCinema e Cineplayers, o exercício da crítica cinematográfica não existe sem a perspectiva de outras pessoas.
"É bom demais ter um evento em que eu e meus amigos vamos juntos, com o mesmo propósito de assistir a um filme diferente, e a oportunidade de conversar com aquele meu amigo sobre aquele filme, ouvir a visão dele, expor a minha visão, colocar minha própria ideia em questionamento. Para mim isso é inestimável, além de ser meu hobby preferido e estar com meus amigos é uma das coisas que eu mais gosto."
Revendo amigos
A cineasta Clara Ferrer ressalta que o evento também é um importante espaço de convivência para profissionais do audiovisual brasileiro, oferecendo a oportunidade de que velhos amigos celebrem as relações de afeto que são forjadas no dia a dia do ofício cinematográfico.
"Às vezes você faz o filme e a equipe nunca mais se vê. Às vezes passam meses, anos até, em pós-produção. E você só vai reencontrar toda aquela galera na estreia, o que é muito bonito, é muito emocionante. Então, hoje em dia, o Festival do Rio também se tornou esse lugar", comenta a realizadora, que roteirizou e codirigiu os curtas-metragens Seria melhor se você tivesse morrido (2016) e A casa de Ana (2017).
Ferrer acompanha o Festival do Rio desde que era adolescente, ainda com 14 anos, mas nessa fase, sua experiência durante a mostra ainda era mais solitária por não encontrar muitos amigos que compartilhassem do gosto pela sétima arte.
Foi apenas quando ela ingressou na faculdade de cinema que o ato de acompanhar a programação do Festival do Rio se tornou uma experiência mais social para a diretora. Ela e amigos se organizavam em grupos online onde comparavam suas grades de programação e se organizavam para se encontrar para acompanhar as sessões.
"Além disso, tinha a experiência da troca, da gente sair do cinema, ir para as sessões e esbarrar nos amigos. Ou a gente via um filme junto e depois ia para algum bar conversar. Às vezes a gente encontrava alguém no metrô, nos ônibus. E você via no metrô, no ônibus, as pessoas que estavam com a revista do Festival do Rio dobrada embaixo do braço. A gente se olhava e se reconhecia. Via aquele olhar meio louco de quem já viu três filmes no dia. Era muito efervescente. Muita troca.”
A seguir, confira filmes que abordam o tema da amizade que foram destaque na programação do Festival do Rio ao longo dos anos
E.T.: O Extraterrestre (Panorama do Cinema Mundial, 2022)
Sinopse: O garoto Elliott faz amizade com um pequeno alienígena inofensivo que está bem longe do seu planeta. Ele decide manter secretamente a adorável criatura em casa, na Califórnia, após apresentá-la aos irmãos. Os dois desenvolvem uma forte conexão, mas E.T. precisa reencontrar seus pares antes que seja tarde demais. Premiado em quatro categorias no Oscar.
- Entre Nós (Première Brasil, 2013)
Sinopse: Isolados numa casa de campo, jovens amigos decidem escrever e enterrar cartas destinadas a eles mesmos para serem abertas dez anos depois. Porém, após uma tragédia ocorrida naquele mesmo dia, os amigos ficam dez anos sem se ver. Agora, este reencontro irá trazer à tona antigas paixões, novas frustrações e um segredo mal enterrado.
- Os Amigos (Première Brasil, 2013)
Sinopse: Sem amizade não existe o amor. Um dia especial na vida de Théo. Pela manhã, ele vai ao funeral de seu melhor amigo de infância. Durante o dia, as lembranças vêm, levando Théo a olhar a vida de uma outra maneira. É Majú, uma amiga por quem tem grande afeição, que o ajudará a recuperar as esperanças.
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- Dope: Um Deslize Perigoso (Expectativa, 2015)
Sinopse: Malcolm é um adolescente do ensino médio que sobrevive em The Bottoms, um dos bairros mais perigosos de Inglewood, Califórnia. Ele e seus amigos têm obsessão por tudo relacionado ao hip-hop dos anos 1990, arriscando-se a serem humilhados na escola por conta de seu visual colorido. Malcolm sonha em estudar em Harvard, mas por ora sua preocupação é chegar em casa a salvo todos os dias. As coisas tomam um rumo hilário e surreal quando ele é convidado para a festa de aniversário de um traficante local. Sundance Film Festival e Quinzena dos Realizadores 2015.
- Levante (Première Brasil, 2023)
Sinopse: Às vésperas do campeonato de vôlei decisivo para seu futuro como atleta, Sofia, de 17 anos, descobre uma gravidez indesejada. Na tentativa de interrompê-la clandestinamente, ela acaba se convertendo em alvo de um grupo fundamentalista decidido a detê-la a qualquer preço. Mas nem Sofia, nem aqueles que a amam, estão dispostos a se render ante o fervor cego da manada. Exibido na Semana da Crítica e vencedor do Prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes 2023.
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- Quase Dois Irmãos (Première Brasil, 2004)
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- Tangerine (Expectativa, 2015)
Sinopse: É véspera de Natal em Los Angeles e Sin-Dee está de volta ao bairro, depois de passar 28 dias atrás das grades. Ao ouvir que seu namorado, um cafetão, não lhe foi fiel enquanto esteve presa, ela e sua melhor amiga, Alexandra, embarcam em uma missão para desvendar a veracidade desses rumores escandalosos. A odisseia as leva por um passeio pelas muitas subculturas de Los Angeles, incluindo a de uma família armênia e sua maneira muito própria de lidar com a infidelidade. Todo estrelado por atrizes transexuais, o longa foi filmado com iPhones. Seleção oficial do Sundance 2015.
Torre das Donzelas (Première Brasil, 2018)
Sinopse: Há desejos que nem a prisão e nem a tortura inibem: liberdade e justiça. Há razões que nos mantêm íntegros mesmo em situações extremas de dor e humilhação: a amizade e a solidariedade. O filme traz relatos inéditos da ex-presidente Dilma Rousseff e de suas ex-companheiras de cela do Presídio Tiradentes, em São Paulo, resultando em um exercício coletivo de memória feito por mulheres que acreditam que resistir ainda é um único modo de se manter livre.
- A Sociedade da Neve (Panorama Mundial, 2023)
Sinopse: Em 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, caiu no coração da Cordilheira dos Andes. Apenas 29 dos seus 45 passageiros sobreviveram ao acidente. Presos num dos ambientes mais hostis e inacessíveis do planeta, eles precisam recorrer a medidas extremas para permanecerem vivos. Adaptação do livro "A Sociedade da Neve", de Pablo Vierci. Filme de encerramento do Festival de Veneza 2023.
- Kokoro - De Coração a Coração (Première Brasil, 2022)
Sinopse: O olhar íntimo de um diretor nipo-brasileiro sobre a amizade de sua falecida avó com uma amiga do Japão, sua terra natal. As duas fizeram um pacto: se encontrar onde os botos-cor-de-rosa se reúnem na Amazônia.
- Eu, você e a garota que vai morrer (Expectativa, 2015)
Sinopse: Greg, um adolescente desajeitado, só quer passar despercebido pelo último ano do colégio. Evitando qualquer interação social, ele passa os dias ao lado de Earl, seu único amigo, refazendo filmes clássicos em versões amalucadas, como Laranja orgânica, Pipi Tom e Cidadão Kane da terceira idade. A mãe de Greg, cheia de boas intenções, o força a se aproximar de Rachel, uma colega de classe com leucemia. Logo os dois são surpreendidos ao perceberem que têm muito em comum. Mas quando a saúde de Rachel piora, o mundo de Greg muda para sempre. Melhor filme e prêmio do público, Sundance 2015.
- Tudo o que Você Podia Ser (Première Brasil, 2023)
Sinopse: É o último dia de Aisha em Belo Horizonte. Acompanhamos a despedida na companhia de suas melhores amigas: Bramma, Igui e Will. Por meio do cotidiano e dos encontros entre as personagens, o filme tece um retrato afetuoso sobre a família que se escolhe constituir através do valor da amizade.
- Minha amiga do parque (Première Latina, 2016)
Sinopse: Enquanto o marido viaja a trabalho para o Chile, Liz luta para cuidar sozinha do filho pequeno. Sentindo-se deslocada em meio ao grupo fechado de pais no parque, ela se aproxima de Rosa, operária e mãe solo. A diferença social cada vez maior entre elas, assim como rumores estranhos sobre a família de Rosa, fazem Liz suspeitar que sua nova amiga seja uma influência negativa em sua já frágil vida. Uma apreciação honesta dos lados público e privado da maternidade, o filme joga luz sobre as inseguranças e exaltações de uma amizade entre duas mulheres. Prêmio Especial do Júri, Sundance 2016.
- O Tesouro do Pequeno Nicolau (Panorama do Cinema Mundial, 2022)
Sinopse: Nicolau tem um grupo de amigos inseparáveis, conhecido como "Os Invencíveis", e vive um mundo perfeito. Sua felicidade, no entanto, está em risco, pois seu pai foi promovido e a família terá que se mudar para o sul da França. Buscando evitar o terrível afastamento, "Os Invencíveis" bolam uma caça ao tesouro.
- Fim de Festa (Première Brasil, 2019)
Sinopse: Voltando antecipadamente de suas férias depois do período carnavalesco para investigar o assassinato de uma jovem turista francesa, Breno Wanderley se depara com possíveis espelhamentos de sua própria história, da qual não consegue se desvencilhar. Entre a quarta-feira de cinzas e o domingo pós-carnaval, buscando desvendar o crime, vê em seu filho, também chamado Breno, uma chance de se reinventar numa cidade partida e melancólica.
- Close (Panorama do Cinema Mundial, 2022)
Sinopse: A amizade entre dois meninos de treze anos, Leo e Rémi, acaba de repente. Sem entender o que aconteceu, Léo procura Sophie, mãe de Rémi. O filme dividiu o Grande Prêmio do Festival de Cannes 2022 com Stars at Noon, de Claire Denis.
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